terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Review do Dreamlinux 5: o pesadelo nacional em forma de distro!

Ultimamente, estamos passando por um momento de revival das distribuições nacionais. Elas, que ficaram com seu desenvolvimento inativo durante os últimos anos, aparentemente estão voltando e o Dreamlinux foi a mais recente distribuição a ressurgir, lançando uma nova versão estável após três anos. A nova versão, porém, não é motivo de orgulho, principalmente se considerarmos o largo período de tempo antes de seu lançamento e que seus desenvolvedores almejam o mercado internacional.



Para quem não conhece, o Dreamlinux é uma das muitas distribuições nacionais que surgiu após o boom do Kurumin, tendo como principal característica um script chamado MKDistro o qual permite a qualquer usuário criar seu próprio sistema baseado nele. Em 2008, a distribuição voltou-se aos usuários internacionais pelo motivo de eles serem mais receptivos à mesma.


A última versão estável registrada pelo DistroWatch antes da atual é a 3.5, que foi lançada em 28 de Fevereiro de 2009. A seguir, a página lista vários alfas e betas de uma suposta versão 4.0 que, aparentemente, teve seu desenvolvimento abandonado em favor do Dreamlinux 5, que foi liberado no primeiro dia do ano.


Eu nem vou comentar que a distro é apenas mais uma remasterização do Debian e que os desenvolvedores não estão nem aí pra GPL pois todos já sabem disso. O que você lerá a seguir é um relato real de um usuário final ao experimentar a distro e, no final, vai responder para si se a mesma possui o nível de qualidade exigida para o mercado internacional ao qual a mesma se propõe a atingir. Segure-se na cadeira, porque cabeças vão rolar.



O boot e o login


Após fazer o download da iso de 965MB e queimá-la em um DVD, você é apresentado, ao dar o boot, à tela do GRUB, que possui apenas uma única opção em seu menu para iniciar o sistema. Isso é um grande atraso, pois a maioria das distros atuais possui várias opções em seus menus de inicialização para, por exemplo, iniciar do primeiro disco rígido, iniciar em modo gráfico seguro ou testar a memória - o Memtest86+ está presente no disco, mas não há uma opção explícita para ele no menu do GRUB, se o usuário quiser alguma opção avançada, terá que passar parâmetros ao kernel - isso se ele conseguir começar a digitar imediatamente após o surgimento da tela, pois os desenvolvedores configuraram um intervalo de apenas 1 segundo entre a janela de escolha do sistema operacional e o início do processo de boot em si. Ponto negativo.


O boot é em modo texto. Isso, em si, não é um grande problema visto que é uma característica própria do Debian e até o LMDE inicia-se dessa forma, mas considerando-se o tempo que a distro demorou para ser lançada, os desenvolvedores poderiam ter instalado e configurado o Plymouth ou outro recurso que permitisse uma tela de boot gráfica.


No entanto, se por um lado não temos um boot "bonitinho", logo vemos a primeira das muitas "personalizações" que o pessoal da distro fez: uma das primeiras mensagens mostradas pelo kernel é o texto "This is Dreamlinux Debian derivative distro, version 1.0"m seguida do nome e do e-mail do desenvolvedor principal. A colocação dessa mensagem é interessante e mostra a preocupação do time em dar crédito à distro-mãe mas... se a versão da distro é 5, por que aparece 1.0? Meio ponto só por causa da criatividade em colocar a mensagem.


Alguns instantes depois, somos apresentados à  tela de login do LightDM:


Tela de login do Dreamlinux


Eu espero você parar de rir, sim porque essa ideia que eles tiveram é simplesmente RIDÍCULA! A maioria das distribuições live-cd já providencia um login automático para o usuário; O CentOS, que é mais voltado à segurança, apresenta por padrão sua tela de login e faz o login automaticamente após alguns segundos se o usuário não fizer nada nesse tempo. Tudo isso pode ser feito mas NÃÃÃÃOOO, o pessoal do Dreamlinux TINHA que inovar e fez algo que ninguém pensou antes: colocou o nome de usuário e a SENHA no próprio gerenciador para que o usuário a digitasse. Por que isso? Seria uma aula de como fazer login no Linux? Qual a nobre desculpa de não ter utilizado uma das soluções anteriores, visto que o Ubuntu usa o mesmo gerenciador e oferece suporte a elas?



O ambiente desktop


Área de trabalho do Dreamlinux


Após você selecionar o usuário dreamlinux e copiar a senha escrita no próprio gerenciador de login, você é apresentado à área de trabalho do sistema. É incrível como a equipe da distro, através de suas personalizações, conseguiu copiar o visual do Mac OS X e, ainda por cima, copiou errado pois dois ícones ficam ali, soltos, estragando o design.


Eles pensaram em tudo, até plagiar o "About This Mac" que se transformou em "About This System" que, aqui, misteriosamente não funcionou. Mas é claro que eles se esqueceram do pequeno detalhe do modo texto, pois se você se der ao trabalho de pressionar Ctrl + Alt + F1, vai cair no Console que mostrará a identificação padrão do Debian Wheezy, o que compromete a identidade do sistema como um todo. É claro que bastava ter alterado o /etc/issue e colocado ali o nome da distro, mas o pessoal não deve ser muito chegado a linhas de comando.



Programas e pequenos detalhes


Caso você não tenha percebido, o sistema é em Inglês por causa do seu alvo internacional. O próprio site da distro possui instruções sobre como colocá-lo em Português, o que envolve a digitação de alguns comandos. Considerando-se, porém, que a distro é grande demais para caber em um CD-R, os desenvolvedores poderiam ter incluído esses pacotes de idioma no próprio sistema, o que o tornaria um pouco maior mas traria mais comodidade ao usuário brasileiro.


uanto aos programas incluídos, não há muita novidade aqui: ele vem com o Chromium 15 - já com Flash instalado -, GIMP, Inkscape, Shotwell - um organizador de fotos ao estilo Picasa - Orage Globaltime - fusos-horários -, o software de limpeza Bleachbit, alguns programas próprios da distribuição para personalizá-la e mais alguns outros. Os desenvolvedores tem uma quedinha por softwares proprietários - que você logo vai entender melhor - ao, por exemplo, colocar o Foxit Reader como leitor de PDF padrão do sistema ao passo que temos várias outras alternativas livres - e melhores - disponíveis. Ele também vem com o Synaptic e vários utilitários de modo texto nos menus, como o htop - para verificar processos - e o Midnight Commander - um gerenciador de arquivos e de FTP pelo qual você vai se apaixonar ao usar pela primeira vez ;)


Um bem interessante que eu achei foi o Application Finder, o qual permite pesquisar as aplicações instadas por suas funções, muito útil para quem está vindo do Reino de Redmond e se sente perdido com tantos nomes estranhos:


Application Finder


Mas a qualidade da experiência do usuário fica prejudicada por conta de alguns pequenos detalhes. Por exemplo: meu touchpad apenas movimentava o ponteiro do mouse e, para clicar, foi necessário utilizar as teclas nele anexas. Tudo bem, este é um comportamento padrão de várias distros - inclusive do CentOS, mas o fato é que eu simplesmente não consegui encontrar, na janela de configuração do mouse, algum botão ou caixa de diálogo que me permitisse clicar com toques, o que existe no CentOS. Além disso, essa janela listou o meu touchpad e um mouse USB o qual eu não tenho! Sem falar que os programas estão simplesmente jogados no menu Applications, sem qualquer divisão lógica entre eles: o programa de edição de imagens está junto à planilha eletrônica, o que não faz sentido lógico algum.


A conexão wireless também foi um mistério: como eu estava imaginando que aconteceria, a luz de atividade wi-fi do notebook permaneceu apagada durante o boot e a utilização do sistema, indicando que esta conexão não estava funcionando. Mas quando cliquei no ícone ao lado do relógio, foi exibida uma lista com as redes sem fio disponíveis e eu consegui me conectar ao meu modem e navegar na internet, embora a luz de atividade wireless tenha continuado apagada, o que pode certamente confundir alguns usuários.


A distribuição possui um sistema de notificação parecido com o que temos no Debian, Ubuntu e outras que mostra o que está acontecendo com balõezinhos ou similar: isso funcionou quando me conectei à rede Wireless, mas não quando conectei minha multifuncional HP e aparentemente nada aconteceu. Seria útil se o sistema avisasse ao usuário se a impressora foi detectada corretamente. Além disso, não há documentação offline na imagem ISO, o que torna a distro inadequada para quem nunca mexeu com Linux. Seria interessante se a mesma tivesse nem que fossem algumas páginas HTML em uma pastinha explicando o be-a-bá do sistema através de um ícone no desktop.


Falando em HTML, a distro vem com o LAMP completo. Não sei pra quê, só se for para alguma função específica da mesma, pois a maioria dos usuários não mexe com webdesign e nem sabe pra que isso.


O pior aconteceu quando eu resolvi transferir alguns vídeos de um celular via Bluetooth: o meu dongle de camelô foi reconhecido sem maiores problemas, o celular também, mas na hora de parear os dois pela distro... Erro desconhecido! Resultado: consegui parear pelo celular. Na hora de explorar os arquivos do dispositivo, acredite se quiser: recebi uma mensagem de erro dizendo que o Nautilus não estava instalado e que eu deveria configurar outro visualizador de arquivos em um menu. Pô, por que os nobres desenvolvedores da distro já não deixaram isso configurado? Por que tem de delegar ao usuário a tarefa de corrigir um erro que eles próprios cometeram? A saída foi tentar enviar o arquivo pelo celular mas, aí, o adaptador não foi mais encontrado pelo dispositivo móvel.



A suíte de escritório


Lembra de que eu falei que os desenvolvedores tinham uma queda por programas proprietários? Pois é: quando falamos em suíte de escritório para Linux, logo vem à mente o LibreOffice, mas não no caso do Dreamlinux que, através de um acordo, oferece o Softmaker Office como solução padrão.


De acordo com o site da empresa, a versão atual da suíte custa € 69,95. Então, você logo pensa que o "acordo" que eles fizeram com o fabricante foi para distribuir o Softmaker Office 2010 de graça na distro - tanto que é a caixa dessa versão que é exibida no site do Dreamlinux - mas, quando você inicia um dos programas e vai na caixa About, percebe que na verdade o sistema vem com a versão 2008, que já está mais do que ultrapassada e que foi oferecida gratuitamente em uma promoção de 2009 que já se encerrou e que não foi renovada - o que poderia caracterizar propaganda enganosa em relação à imagem do site e ao que é de fato oferecido.


A suíte vem com três programas: TextMaker, para escrever textos, PlanMaker, a planilha eletrônica e o Softmaker Presentations para fazer slides. Embora segundo a fabricante eles sejam compatíveis com as principais suítes do mercado, os arquivos gerados são salvos em um formato proprietário.


Ao iniciar qualquer aplicativo pela primeira vez, é exibida uma caixa de diálogo solicitando para que o usuário defina a pasta de documentos e de modelos:


Primeira utilização de um aplicativo do Softmaker Office


Após confirmar, vemos uma caixa de diálogo que nos convida a registrar o aplicativo e a entrar com um número de série, caso tenhamos algum:


Registro do Softmaker Office


E, a seguir, somos apresentados às telas dos programas, que possuem um visual "clássico" e sem a menor preocupação com a melhor utilização do espaço na tela:


TextMaker


PlanMaker


Softmaker Presentations



Conclusão


A qualidade técnica do Dreamlinux está muito aquém do esperado para uma versão estável de uma distribuição a qual se propõe a abranger uma comunidade internacional e que ficou mais de três anos em desenvolvimento. A impressão que eu tive ao experimentar a distro é que  a mesma foi feita às pressas e nas coxas apenas para saciar o desejo de usuários que talvez a estivessem já abandonando-a devido à demora em novos lançamentos. Se fosse uma versão alfa ou beta, os erros seriam compreensíveis, mas não quando o produto é anunciado como sendo uma versão final.


De qualquer forma, essa distribuição mancha vergonhosamente o nome de nosso país no cenário de tecnologia internacional e presta um desserviço à promoção do software livre. É melhor utilizar uma distribuição conceituada, como Ubuntu, Mageia, Fedora, Mint ou o próprio Debian do que perder tempo com um sistema incompleto e confuso. Definitivamente, não recomendado!

8 comentários:

  1. Credo, que lixo, só podia ser coisa de brasileiro mesmo.

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  2. Depois reclamam quando só ficam falando mal das distros nacionais... fazer o quê? E eu ainda tentei encontrar algo para falar bem, mas foi impossível!

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  3. Baixei, instalei e não gostei. Muito aquém do esperado e das versões anteriores. Acho que poderiam ter feito algo bem mais acabado e com a qualidade merecida. Sempre tive uma queda pela distro, especialmente as primeiras releases. Infelizmente é mais uma que volta e tende a morrer na praia.

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  4. Não gosto de desvalorizar trabalho alheio...mas, neste caso, poderiam ter feito um trabalho melhor.
    Passa uma idéia negativa sobre o sofware livre e o GNU/Linux em geral.
    Triste.

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  5. http://dreamlinuxforums.org/index.php?topic=7688.msg45476#msg45476

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  6. Eu não lembro de ter visto tamanha demonstração de amor (cof, cof, cof...) por um integrante do blog Espaço Liberdade desde os meus post sobre a Canonical e o Ubuntu.

    ^ ^

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  7. qual a diferença? todo linux é lixo mesmo.

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  8. Quando se tem Windows pirata é fácil falar mal do Linux.

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