quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Canonical, Thunderbird e o Abismo das Mudanças

Algumas pessoas estranharam quando eu postei no Twitter que iria falar bem de algo feito pela Canonical. Ok, até eu concordo que é um pouco estranho, mas como eu sempre digo: “Vaia para o que merece vaia, aplausos para o que merece aplausos”. Para matar sua curiosidade de uma vez por todas, estou falando da adoção do Mozilla Thunderbird no Ubuntu 11.10.


Não, não, eu não me apaixonei pela Canonical. No entanto, estou achando interessante o caminho que ela começou a tomar depois da briguinha (que ninguém admite...) com a Gnome Foundation. Apesar do Unity ser, na minha opinião, um erro do tio Shuttleworth, ele pode ter sido a “cagada que vai adubar o crescimento de outros softwares livres”. O problema aqui é exatamente o pode ter sido.


Deixe eu me explicar. A Red Hat tem mais tradição, mas anos de trabalho e maior participação nas maiores frentes de software livre, coisa que a Canonical não pode mudar simplesmente pintando o mundo Linux de roxo. No entanto, a Red Hat, como qualquer outra empresa ou coisa do mundo, não pode estar em todos os lugares, ajudando todos e participando de todas as frentes, é algo impossível.


Onde entra a Canonical nisso? Exatamente criando a tradição e participação naquelas frentes que a Red Hat não pode/não quer/não tem como (?) chegar e/ou participar. Um passo muito interessante é a adoção do Thunderbird, da Mozilla Foundation, irmão pobre, despenado e rejeitado do Firefox (tadinho... :*( ).


Como a Red Hat, e por consequência o Fedora, trabalham muito próximos a Gnome Foundation, é uma questão meio diplomática trocar o Evolution pelo Thunderbird. Impedimento esse que a Canonical não tem e fez um uso inteligente dessa vantagem.


De acordo com o que eu li pela internet, o trabalho no momento se concentra em criar, compatibilizar e estabilizar uma conexão entre o Thunderbird e o núcleo do Evolution, que faz parte do código do Gnome. Ainda existem planos para integrar o Lightining, plugin de calendário do Thunderbird, com essa mesma conexão com o Gnome. Basicamente, o trabalho parece ser de integrar o Thunderbird ao Gnome, como um substituto de verdade para o Evolution.


No entanto, a linha entre o triste fracasso e o sucesso absoluto nesse caminho que a Canonical está tomando é muito frágil. Ela começará a criar um nome de verdade, uma reputação, no momento em que esses trabalhos forem adicionados ao upstream. Basicamente: o meu pé atrás é que esse trabalho fique lá trancadinho dentro da empresa desenvolvedora do Ubuntu e não chegue a outras distribuições - e ao próprio upstream - como aconteceram em diversos casos.


Como já diria Flemeth, em Dragon Age 2, o Ubuntu “se encontra na beira do abismo das mudanças”. Ele pode escolher se jogar, abrir as asas e ir muito alto ou tentar beijar o próprio umbigo e morrer esmagado lá embaixo. E isso é uma escolha que usuário nenhum pode fazer pela empresa.

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