terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Filme Hackers na Record: recordar é viver... e rir

Na tarde do dia 22 de Janeiro, fui surpreendido pelo fato de a Record transmitir o clássico filme Hackers - Piratas de computador (que foi traduzido como Hackers - Ameaça virtual que, na verdade, é outro filme que não tem nada a ver). Não sei se é por causa da Campus Party ou porque o responsável pela programação se agradou da "fita" que devia estar jogada em um canto.



Na época em que este filme de 1995 passou pela primeira vez na Tela Quente, a minha mãe - que Deus a tenha - não me deixou assistir porque achava que o mesmo era muito forte (imagina...) mas, de qualquer forma, foi o filme que marcou e inspirou uma geração, exceto por alguns pequenos detalhes.

Em primeiro lugar, há de se esclarecer um detalhe: o pessoal do Brasil resolveu criar uma trilogia de filmes de hackers: o primeiro foi esse, de 1995; o segundo, chamado de Hackers 2: Takedown ou Caçada Virtual é de 2000 e mostra a história real de Kevin Mitnick; Já o terceiro, chamado Hackers 3 - Ameaça virtual, cujo título original é Antitrust, mostra um jovem gênio da Informática que vai trabalhar em uma firma que tem problemas com a lei antitruste estadunidense. No entanto, apesar desta sequência estabelecida, é necessário dizer que os três filmes não tem NADA A VER um com o outro: são de diretores diferentes, com atores diferentes e com histórias distintas que não possuem nenhuma relação entre si.

Agora, muita gente ficou impressionada com o poder que aqueles jovens com problemas sociais podiam fazer com os computadores. O primeiro filme dá a impressão de que, se você domina um computador, pode fazer o que quiser o que, de certa forma, é verdade. Foi nostálgico ver a cena em que o protagonista "Crash Override", interpretado por Jonny Lee Miller, prepara-se para o desafio que topou com "Acid Burn", interpretada por ninguém menos do que Angelina Jolie - muito diferente nesta produção, diga-se de passagem -, sacando disquetes como se fossem armas; Este popular meio de armazenamento de dados da época também aparece quando Lord Nikon (Laurence Mason) armazena o arquivo do "mainframe" em um desses e o esconde num duto de ventilação - como se fosse possível colocar tanta informação em... 1,38MB.

Por um lado, Hackers mostra cenas verossímeis, quando por exemplo o grupo, durante o desafio, invade sistemas para infernizar a vida do Agente Richard Gill (Wendell Pierce), mas por outro comete alguns exageros típicos que se tornaram clássicos.

Sem falar das totalmente desnecessárias cenas em que Jolie dá uns amassos em personagens secundários, como em todo o filme de hackers, o grupo tem que invadir o mainframe de uma grande empresa - Hackers cunhou a expressão "Hack the Gibson". Como sempre, eles conseguem invadir o tal mainframe usando laptops conectados a telefones públicos.

[caption id="" align="aligncenter" width="520" caption="Este "moderno" laptop é utilizado no filme."]Laptop usado no filme Hackers[/caption]

Um administrador que possibilita que o mainframe de uma grande empresa possa ser invadido por uma conexão discada é a incompetência em pessoa. Falando em incompetência, outro ponto ocorre quando o computador central é invadido pela primeira vez, onde é descoberto que a senha de acesso ao sistema é "GOD". Que pessoas utilizam senhas ruins tudo bem, mas precisava mostrar a senha em letras garrafais no telão do sistema de segurança durante a invasão para que todo mundo visse? Os asteriscos não existiam nessa época?

Como se não bastasse isso, para invadir o tal sistema, eles nem mesmo procuram descobrir um endereço IP do micro e, se você está pensando que eles digitam linhas e linhas de comando em um terminal Linux, esqueça: eles invadem o dito cujo através de um sistema de realidade virtual:

Ambiente virtual Gibson

Ora, se em outro ponto do filme eles comentaram que o laptop em questão tinha um modem de 28 mil quilobytes (que certamente foi um erro de dublagem, afinal a medida de velocidade é quilobits por segundo), é óbvio que invadir um sistema daquela forma é algo totalmente inverossímil. Se, ainda hoje, com uma conexão banda larga, temos lags quando tentamos acessar uma área de trabalho via VNC ou outra tecnologia similar, imagine com uma velocidade daquelas, com todos os gráficos mostrados; no mundo real, demoraria uns 10 minutos só pra ver a tela inicial. Além disso, eu pergunto qual a utilidade prática de um sistema desses. Sim, imagine o seu chefe dizendo que você precisa abrir um arquivo imediatamente. Aí você faz login, vê a "cidade virtual" e demora uma hora, navegando, até chegar à localização do arquivo. Nesse meio tempo, a empresa foi à falência. Este vídeo que eu encontrei demonstra como seria a invasão de forma mais realista:

 

Outro ponto é que, mesmo sem saber que sistema operacional é rodado no tal Gibson - e muito menos qual biblioteca gráfica ele utiliza -, os hackers criam um vírus para comer a memória do mainframe. É claro que o vírus tem a aparência do famoso Pacman. A pergunta: pra que fazer isso? Não seria muito mais rápido e prático criar apenas um serviço que fica rodando de fundo? E o pior é eles dizendo que queriam atingir o processador central. Não se atinge um processador, mas sim os processos que rodam através dele. E eu também não sabia que, ao serem invadidos, computadores soltavam raios.

Já em outro ponto da trama, um personagem diz que invadiu um servidor de um banco e fez um caixa eletrônico cuspir dinheiro na rua. Não sei nos EUA mas, pelo menos aqui no Brasil, os caixas eletrônicos não são conectados à Internet, justamente para evitar que algo do tipo aconteça. Em outra cena posterior, após um personagem ser preso, quando ele é liberado, é mostrado o mesmo chorando sobre seu computador, que foi totalmente desmontado pelas autoridades. Ao assistir a cena, fiquei me perguntando: por qual nobre motivo eles desmontaram também o monitor do PC?

Com todos esses exageros, Hackers foi um filme que marcou época e inspirou muita gente a entrar para o mundo da tecnologia. Pena que, na realidade, os computadores não são tão emocionantes. Para terminar, fiquem com a lista de 10 coisas que os computadores só fazem nos filmes. Parece que o pessoal de Hollywood não entende muito de informática.

Mesmo assim, se você, assim como eu, está 15 anos atrasado e ainda não viu o filme, baixe ou alugue. Pode não ser realista, mas é diversão garantida.

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