terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O que os softwares proprietários e os alienígenas tem em comum?

No final de 2009 e durante todo 2010, fomos presenteados pela série V - Visitantes, que é um remake da produção homônima de 1983. Você sabe o que a indústria de softwares proprietários tem a ver com os alienígenas desta série? Absolutamente tudo.


Anna, da série V. http://images.vizworld.com/wp-content/uploads/2010/03/v_anna_630x354-595x334.jpg


Na série - cuja atriz que interpreta a líder dos visitantes é interpretada pela atriz brasileira Morena Baccarin -, vinte e nove naves alienígenas vem à Terra (supostamente) em missão de paz. Eles são bonitos, atraentes, carismáticos e oferecem toda sua tecnologia para o desenvolvimento da humanidade, em troca de água e de um mineral abundante em nosso planeta. Dentre outras coisas, eles criam centros de cura, nos quais podem curar várias doenças que afringem a humanidade e, desta forma, conquistam a simpatia de muitas pessoas. No entanto, como diz o ditado, "se a esmola é demais, o santo desconfia" e um grupo de humanos começa a duvidar das verdadeiras intenções dos bondosos extraterrestres. Logo, esse movimento de resistência descobre toda a verdade: os aliens, na verdade, são reptilianos e estão aqui porque querem nos comer (no sentido literal da palavra).

A aparência real de um visitante, na série original. http://www.iwatchstuff.com/2008/10/10/v-lizard-alien-lady.jpg


No entanto, a ideia de criar uma série sobre alienígenas vivendo entre os humanos não é inédita. Na verdade, o argumento de V é (praticamente) o mesmo de outra produção que teve seu destaque, a série Terra: Conflito Final, que foi ao ar de 1997 a 2002.

Da'an, de Terra: Conflito Final http://www.metroactive.com/metro/05.06.09/gifs/ARTS_daan.jpg


Antes que você pense que Terra: Conflito Final é uma cópia da série V original, cabe uma revelação: na verdade, EFC, como era conhecida em Inglês, é uma obra póstuma de Gene Roddenberry, o mesmo criador de Star Trek. Na verdade, Gene desenvolveu a ideia do programa, que deveria se chamar Battleground: Earth no final da década de 70: ele chegou a escrever alguns episódios completos e apenas a ideia de outros mas, como na época ninguém quis apostar na ideia, os roteiros ficaram engavetados até que sua esposa os redescobrisse, anos após sua morte, e fizesse sua ideia sair do papel. Como Gene não produziu seus rascunhos em segredo, é possível que os produtores da série V original tenham utilizado algumas ideias do que viria a se tornar Terra: Conflito Final em sua produção.

O argumento é o mesmo: uma raça alienígena, chamada Taelon, vem à Terra em missão de paz e usam sua avançada tecnologia para ajudar a humanidade a progredir. Um grupo de humanos, porém, desconfia das boas intenções, desconfia que há uma agenda oculta e cria uma resistência contra a permanência dos extraterrestres.



Infelizmente, vários problemas entre os atores e diretores estragaram a série, que ficou marcada por mudanças constantes no elenco principal. Embora a trilha sonora seja um espetáculo - que me lembre um cenário árabe ou mediterrâneo -, a produção teve várias falhas. O personagem principal mudou da primeira para a segunda temporada, esse novo personagem sumiu misteriosamente no final da quarta e, na última - que não foi exibida no Brasil -, eles colocaram outra pessoa no lugar, uma nova raça alienígena surge como os vilões, sem qualquer conexão com o enredo anterior e, no último episódio, o personagem principal anterior reaparece misteriosamente e resolve todos os problemas. Assim, o tão esperado "conflito final" entre humanos e alienígenas jamais aconteceu - pelo que li, também não aconteceu no V original que, na verdade, foram duas minisséries e uma série.

Mas o que todo esse papo de ficção científica tem a ver com a indústria de software proprietário? Ora, as séries citadas podem ser consideradas como uma metáfora não intencional para o mundo tecnológico atual. Senão vejamos: há algumas décadas, éramos uma população com poucos avanços tecnológicos. Então, surge a indústria de software proprietário que, assim como os alienígenas, nos prometem tecnologia para melhorar nossas vidas. Surgem sistemas operacionais, processadores de texto, planilhas eletrônicas e, principalmente, jogos. Todos acham que aquilo é bom pois, desta forma, podem fazer seu trabalho de forma mais rápida e eficiente, além de se divertirem de um jeito jamais visto.

Apesar de toda a euforia, um grupo de pessoas começa a desconfiar das verdadeiras intenções da indústria de software. Para começar, eles obrigam os usuários a, periodicamente, comprarem versões mais novas de seus produtos que, em essência, fazem a mesma coisa que a versão anterior, mas possuem mais e melhores recursos. A nova versão, porém, é mais pesada, o que obriga o usuário a trocar, também, seu computador, sempre influenciado pelo poder do marketing e das práticas behavioristas, os quais tentam convencer o usuário de que ele só será feliz tendo a tecnologia mais atual, mesmo que a anterior lhe supra todas as suas necessidades. Além disso, com o advento da Internet, é descoberto que softwares, muitas vezes legítimos, enviam informações sobre o usuário, seu computador e/ou os programas instalados para o fabricante, muitas vezes sem o conhecimento do mesmo. Como se não bastasse, os termos de uso dos programas criminalizam os usuários que desejam compartilhar seus programas com seus próximos.

Algumas pessoas, então, passam a resistir aos softwares proprietários e criam softwares livres que fazem tudo que os programas proprietários fazem, mas são éticos: não lhe obrigam a atualizá-los quando o fabricante quer, não enviam informações pessoais suas para terceiros sem seu conhecimento e, principalmente, permitem que você os copie e distribua como desejar.

A indústria de software proprietário, ante a formação da resistência, passa a enfrentá-la, difamando-a e vendendo a imagem de que os produtos proprietários são melhores porque são mais compatíveis, mais fáceis de usar, mais bonitos e tem mais usuários. Como um traficante de drogas, eles viciam os usuários em seus produtos fechados, tornando (quase) impossível que um deles mude para uma solução livre: ou é muito difícil, ou não tem tempo para aprender ou precisa usar um programa X que só roda no sistema Y para trabalhar. A resistência - usuários de software livre - tenta avisar os usuários do perigo que eles estão correndo, mas não é ouvida e os próprios usuários escolhem criticá-la e ficar ao lado dos "companheiros".

O que as séries de ficção acima mencionadas nos mostram é uma forma alternativa de se ganhar uma guerra: você pode chegar em um planeta ou país com todo seu poderio bélico e sair atirando para todos os lados. Certamente, em um curto espaço de tempo, você terá dominado aquela região, mas terá pago um preço muito alto: toda a população estará contra você. No entanto, há outra forma de vencer: você chega em "missão de paz" e oferece toda a sua tecnologia e recursos para ajudar aquela população. Evidentemente, algumas pessoas irão se posicionar contra, mas aí você, utilizando de seu carisma e de sua influência, logo os desacredita. No final, toda a população estará do seu lado e irá aceitar ser dominada por você passivamente. Na verdade, ela sequer vai perceber que está sendo dominada, pois você irá fundir sua cultura com a dela e, no fim, todos farão o que você quer. É tão óbvio! Tão simples!

É isso que as empresas de programas proprietários fazem conosco. Quem usa programas proprietários apenas o faz porque quer, não porque precisa. Há o comodismo de se utilizar um software fechado - muitas vezes ilegal - sem procurar saber se existem alternativas ou se esforçar para se melhorar as alternativas existentes. Reclama-se de que o BR-Office não é compatível com os documentos do Microsoft Office, mas estes que reclamam não ajudam os desenvolvedores a aumentar o nível de compatibilidade. Os programas fechados - assim como as drogas - apenas são produzidos porque há alguém que os compra. No entanto, sabemos que não é fácil mudar a mentalidade de uma multidão, não quando há fortes e poderosos interesses por trás.

"- Por que demos a energia azul aos humanos?
- Porque quando dependerem dela, poderemos desligar."

PS: Ao que tudo indica, o Gnome aparece nesta série:

Seria isto GNOME ou Mac OS X?

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