terça-feira, 28 de junho de 2011

Os ataques aos sites do governo e a ameaça à Liberdade na Internet

A menos que você tenha passado a última semana de férias em algum outro planeta, deve ter ouvido falar que os sites do Governo estão sendo vítimas de uma onda de ataques crackers. Nesta sexta-feira, a bola da vez foi a página do IBGE, na Quinta, atacada pelo grupo rival Fail Shell; eles divulgaram dados pessoais da presidenta (ou da presidente, não vamos ficar discutindo Português aqui xd) e. anteriormente, tiraram do ar os sites da Receita e da Presidência da República. (no momento em que escrevo há uma notícia de que eles anunciaram um ataque ao site da Globo - essa eu quero ver) Nesta mesma semana, o famoso grupo Anonymous enviou uma mensagem em vídeo para o povo brasileiro:


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Embora muitas pessoas estejam apoiando as ações dos grupos crackers em várias redes sociais - basta ver alguns comentários no vídeo acima, nós, como usuários de software livre, temos a obrigação de repudiar tais atitudes. As ações dos crackers estão contribuindo para o cerceamento da Liberdade na Internet no país, eles não possuem autoridade  para exigir as reformas sociais as quais defendem e suas ações podem ser comparadas às de bandidos e de marginais.


A maioria das pessoas sabe que já há algum tempo o projeto de lei do senador Azeredo tenta limitar a Liberdade na Internet. Entre outras coisas, a lei prevê, por exemplo, que os provedores de Internet sejam obrigados a revelar a identidade dos usuários que, por exemplo, baixarem arquivos via BitTorrent ou uma pena de prisão e de multa para quem obter dados na rede sem a autorização do proprietário. Como defensores da Liberdade, nós somos evidentemente contra e, embora muitos sejam céticos no tocante à funcionalidade da lei caso ela seja aprovada - afinal temos uma infinidade de leis por aqui que se só funcionam no papel - as ações desse grupo apenas servem de aval para justificar a necessidade de regulamentações como essa. Quando essa série de ataques terminar, os governantes dirão que será necessário ter um controle maior sobre a Internet no país para que as autoridades possam identificar e punir mais rapidamente os responsáveis pelos atos criminosos - ou que, se caso esse controle já existisse, as autoridades poderiam ter identificado os responsáveis mais rapidamente e evitado alguns ataques - e a tragédia estará anunciada. Em pouco tempo, nossos passos na Internet serão vigiados e não haverá nada que possamos fazer; tudo isso por causa de meia dúzia de delinquentes juvenis que ae acham "os caras" mas que, a cada passo, tornam mais evidente seu amadorismo - afinal, negação de serviço e defacement são coisas que qualquer "lammer" pode fazer.


Os grupos crackers em questão não possuem a mínima autoridade ou envergadura moral para exigir as mudanças sociais as quais defendem. De princípio, os grupos Anonymous e LulzSec são originários dos Estados Unidos e, portanto, mesmo tendo representantes no Brasil, eles não possuem o mínimo direito constitucional e/ou legal de interferir em nossa política interna. Uma ação dessas seria similar àquela que os Estados Unidos fizeram no Afeganistão, invadindo o país e impondo sua cultura e sua visão de mundo à população local.


Mesmo sendo um grupo de crackers, as suas ações não diferem em muito daquelas praticadas por conhecidos grupos criminosos, como os famosos bondes ou quadrilhas ou gangues de rua. Fazer "deface" de sites é algo análogo ao crime de pixação, por exemplo. Assim como ocorreu nas favelas do Rio de Janeiro, onde os traficantes conquistaram a simpatia da população ao suprir os moradores com serviços, remédios e outros bens que o Estado não pôde entregar naquele momento, o LulzSec tenta conquistar o apoio dos internautas tendo uma atitude messiânica, através de belas e bem elaboradas palavras, dizendo aquilo que todos sabemos e que queremos ouvir. Não podemos, porém, deixar o coração ser mais forte do que o cérebro: seus textos possuem várias falácias lógicas e escondem segundas intenções. O grupo Anonymous se contradiz no vídeo publicado no começo desse artigo ao afirmar que "Nós não desejamos ameaçar o jeito de viver de ninguém. Nós não desejamos ditar nada a ninguém. Nós não desejamos aterrorizar sua população." mas ao mais tarde, no mesmo vídeo, afirmar que "Sua única chance de enfrentar o movimento que une todos nós é aceitá-lo. Esse não é mais o seu mundo. É nosso mundo." Ou seja: eles não desejam mudar o nosso estilo de vida, mas nós seremos obrigados a aceitá-los entre nós; eles não desejam aterrorizar a população, mas vários administradores e visitantes de sites estão aterrorizados com suas atitudes. Devemos ficar alertas com as falsas promessas divulgadas por eles nas redes sociais e não cair nas armadilhas lógicas e psicológicas que elas pregam.


Assim, podemos concluir que as ações dos grupos de crackers não é, de nenhuma forma, legítima e, portanto, temos a obrigação de repudiá-las e de condená-las. Os verdadeiros hackers, como Richard Stallman, Linus Torvalds e John "Maddog" Hall utilizam seu avançado conhecimento tecnológico e informático para construir coisas e ajudar a população, ao contrário desses amadores alienados que, só por terem obtido acesso a uma botnet, acham que podem acabar com a corrupção de nosso país, problema que existe desde antes das captanias hereditárias, de uma hora para a outra. É nas urnas, único e legítimo instrumento da Democracia, que temos a única chance de mudarmos e de melhorarmos nossa situação política. Torçamos para que as autoridades possam identificar rapidamente estes criminosos e que possamos continuar tendo uma Internet Livre.

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