terça-feira, 16 de agosto de 2011

A Rede Globo e o desespero das mídias tradicionais ante às redes sociais

No último dia 6, em uma incomum edição de Sábado do Jornal Nacional, assistimos ao âncora William Bonner anunciar, com entusiasmo, que as Organizações Globo estavam lançando os seus princípios editoriais, um documento que rege a forma de como os veículos da empresa farão jornalismo. Em pouco tempo, o assunto ganhou os trending topics e se tornou um verdadeiro marco no jornalismo tradicional. Mas o que esse documento de fato significa?


Já diz o velho ditado que "quem não deve, não teme". Então, por que a Globo veio com essa de divulgar seus princípios editoriais? Se ela fosse uma empresa séria e comprometida com a verdade jornalística, ela não precisaria fazer isso, pois o povo logo reconheceria sua imparcialidade o que, de fato, não existe.


O documento começa definindo jornalismo como "o conjunto de atividades que, seguindo certas regras e princípios, produz um primeiro conhecimento sobre fatos e pessoas.". A seguir, ele justifica, por razões filosóficas, que não é possível definir jornalismo como sendo a busca pela verdade porque, em linhas gerais, não é possível se alcançar a verdade. Essa definição nos leva a uma perigosa armadilha: se a verdade é algo utópico e inatingível e o que resta ao jornalismo é simplesmente produzir um primeiro conhecimento sobre os fatos, corre-se o risco de inserirmos a opinião, o ponto de vista ou a própria verdade do jornalista que fez a matéria nesse conhecimento inicial, o que certamente vai influenciar a opinião do espectador.


A seguir, entre os vários artigos do documento, vemos definições que podem nos fazer rir sem parar:




) As Organizações Globo são apartidárias, e os seus veículos devem se esforçar para assim ser percebidos;


j) As Organizações Globo são laicas, e os seus veículos devem se esforçar para assim ser percebidos;

k) As Organizações Globo repudiam todas as formas de preconceito, e seus veículos devem se esforçar para assim ser percebidos;

l) As Organizações Globo são independentes de governos, e os seus veículos devem se esforçar para assim ser percebidos;

m) As Organizações Globo são independentes de grupos econômicos, e os seus veículos devem se esforçar para assim ser percebidos...



Para quem assistiu a programação da Rede Globo nas últimas décadas sabe o quanto de laica, apartidária e independente de governos e de grupos econômicos as emissoras e veículos são. Todos sabemos que a Rede Globo manipulou a edição de um debate político entre Lula e Collor no final da década de 80 para que o candidato petista parecesse estar em desvantagem e, alguns anos depois, convocou, através de seus veículos, uma multidão de jovens alienados a pintarem o rosto para, posteriormente, tirar do poder o candidato que ela elegeu. Todos sabemos das várias e constantes críticas feitas pela emissora aos evangélicos, em especial à IURD, e o aparente protencionismo da emissora à Igreja Católica e todos sabemos, também, que a Globo tenta valorizar e copiar tudo que é produzido nos EUA.


Mas a dúvida permanece: por que esse documento? A resposta está nele próprio: em outra seção, a Rede Globo reconhece que, com o advento das redes sociais, todo mundo pode fazer notícia e ser jornalista. O documento, então, seria uma forma de a Globo dizer que, ao contrário do jornalismo produzido na Internet pelo público em geral, o jornalismo da Globo é sério e profissional (e, logo, é melhor e mais confiável).


Isso apenas demonstra que a emissora está com medo do crescimento das redes sociais. O melhor exemplo que encontro para ilustrar essa teoria são as eleições presidenciais de 2010, que tiveram uma participação massiva de candidatos e de eleitores na Internet, principalmente no Twitter. Se, dos anos 80 a 2000, dependíamos apenas das televisões, das rádios e dos jornais controlados por poderosos grupos de mídia, agora podemos ter acesso direto aos candidatos e obter o contraponto da informação dada. Se um telejornal fala uma notícia sobre um candidato, agora ele pode, em pessoa, ir para as redes sociais e desmentir as informações em poucos instantes. As mídias de comunicação em massa, pois, perdem o seu monopólio sobre a informação e,assim, sua capacidade de manipular a opinião do povo.


Hoje, a Internet se tornou uma arma e uma fonte de segunda opinião para o povo, prova disso é que Marina Silva quase se elegeu presidente graças à rede. É esse concorrente invencível que a Globo, através de seus princípios, quer desacreditar, passando a ideia de que as informações nele veiculadas não tem credibilidade, ao contrário daquelas dadas pelos veículos da emissora que, segundo eles, já está a quase 90 anos no mercado - o que é uma faca de dois gumes, pois essa declaração pode ser o atestado de que eles não souberam como inovar e como se renovar em todo esse tempo.


Além disso, os tais princípios editoriais são uma desculpa para a Globo continuar com o seu estilo de fazer jornalismo pois, agora, mesmo que ela venha a fazer uma reportagem tendenciosa, ela sempre poderá dizer que segue seus princípios jornalísticos éticos e que, portanto, não tem culpa. O mais irônico nessa história toda é que a Globo descumpriu seus próprios princípios na mesma edição em que eles foram divulgados.


A nós, resta sempre buscarmos mais de uma fonte de informação para formarmos nossa própria opinião sobre os fatos.


O povo não é bobo! Fora Rede Globo!

2 comentários:

  1. "aparente protencionismo da emissora à Igreja Católica"

    Isso foi piada?

    Nenhuma emissora de televisão brasileira avacalhou, achincalhou, distorceu, desfigurou e relativizou mais o catolicismo do que a Globo! E continua fazendo...

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  2. Xiii... é isso que dá quase não assistir TV XD. Eu me baseei nas constantes aparições do Padre Marcelo há alguns tempos na emissora.

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