terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Privacidade: estamos prontos para abandonar o Google?

Em 2010, Alexandre Oliva, presidente da Free Software Foundation da América Latina, publicou um artigo em seu site explicando por que deixaria de usar os serviços da empresa. O cerne da questão estava no malfadado Google Buzz, que simplesmente aniquilou com sua privacidade. Agora, estamos prestes a enfrentar uma situação similar: em primeiro de Março, o Google vai ativar sua polêmica nova política de privacidade e cabe-nos perguntar: será que estamos prontos para viver sem o maior buscador do mundo?



Não é de hoje que a empresa criada pelos dois universitários de Stanford desperta polêmicas em relação à privacidade: pouco depois de ter surgido, no início da década de 2.000, houve uma grande polêmica acerca do "supercookie" utilizado pelo buscador. Cookies são pedaços de informação que a maioria dos websites deixam nos computadores dos visitantes para poder identificá-los. Graças a eles, você pode configurar suas preferências em uma página e, quando visitá-la novamente no dia seguinte será autenticado automaticamente e as coisas estarão lá do jeito que você deixou. A maioria dos cookies possui uma duração curta, mas o cookie do Google está programado para expirar daqui a uns 40 anos. Considerando-se que esse cookie deixa uma identificação única em cada máquina, o usuário poderia ser rastreado por toda sua vida. (observação: fiz um teste agora e, pelo visto, os novos cookies possuem uma duração normal)


O cerne de toda essa questão é que, durante sua existência, a Google foi criando e adquirindo novos serviços e sites de terceiros, como o Blogspot e o Youtube. Cada um desses sites tinha os seus próprios termos de uso - aquele texto chato que ninguém lê e que diz o que você pode e não pode fazer no site, bem como o que o site pode ou não pode fazer com seus dados. Ao todo, os serviços oferecidos pelo Google - que há tempos deixou de ser apenas um reles site de busca - somavam mais de 70 políticas de uso e de privacidade diferentes. Uma confusão! Então, para resolver tudo, os administradores resolveram criar uma política única que tem por objetivos unificar e tornar mais claros e concisos os termos de uso dos vários sites da empresa.


Até aí tudo bem, a intenção é uma das melhores, mas o problema ocorre quando analisamos os termos dessa política - ou os efeitos indiretos dela em si. Conforme aponta o site Conversion, graças à nova política, a empresa terá um controle maior sobre os anúncios oferecidos a você.  Conforme cita o site, "a Google cruzará os dados e ações de cada pessoa através dos serviços e produtos, permitindo assim a identificação de padrões de comportamento e interesses. Um exemplo pode ser o vídeo que você assiste no YouTube ajudar a determinar os anúncios que aparecem para você no Gmail. Outro exemplo são as imagens que você busca no Google Imagens poderem ajudar a determinar os anúncios que aparecem no buscador ou em um site parceiro que exibe anúncios do Google".


Tudo isso ocorrerá de maneira invisível e indolor: você pesquisou um vídeo sobre Ubuntu no YouTube e, quando estiver lendo seu e-mail no GMail, aparecerá um discreto anúncio sobre alguma empresa que oferece uma certificação da Canonical.


Mas esse seria o menor de nossos problemas se não fosse o fato de que "a nova Política informa que a Google armazenará as configurações do seu computador, dispositivos móveis, IPs, localização, número de telefone utilizado para acessar produtos e serviços, entre outros dados. É informado que esses dados não serão comercializados e acessados por outras pessoas, mesmo funcionários". O Conversion cita como exemplo de que você pode ser avisado de que está atrasado para uma reunião marcada no Google Agenda com base nas coordenadas geográficas informadas à empresa pelo GPS do seu celular com Android. Parece uma cena de filme de ficção científica, mas é algo que está assustando e preocupando muitos que ainda prezam por sua privacidade.


Sem contar o fato de que a empresa estaria prestes a lançar um serviço de armazenamento de arquivos similar ao Dropbox, o que daria a ela acesso não somente aos nossos interesses na Internet e à nossa localização geográfica mas sim aos nossos "segredos" e arquivos, surge a notícia de que a empresa está pretendendo pagar os usuários para monitorar sua navegação na web. Isso é o cúmulo e a deixa para concluirmos que "Don't be Evil" é nada mais do que um slogan.


Silenciosamente, a Google vai se tornar donas de nossas vidas, descobrir nossos segredos e vamos consentir tudo isso. Chegou a hora de seguirmos o exemplo de Alexandre Oliva e dizermos adeus para a página mais acessada do mundo. Mas a grande questão é: estamos prontos para isso?


Substitutos é o que não faltam. Ao invés de navegar na web com o Google Chrome, podemos utilizar o Firefox, que é livre e aberto. O Google Maps pode ser substituído pelo OpenStreetMap, que é aberto e comunitário. Os usuários do GMail ficarão bem servidos pela Lavabit, que é uma empresa de e-mail que respeita a privacidade de seus usuários e oferece, até, um plano básico sem anúncios - e os outros anúncios não são baseados nos conteúdos das mensagens, como no GMail.


Até quem utiliza o Google Analytics para analisar e monitorar o tráfego de seu website ficará bem servido com o Piwik, software livre e open source que realiza as mesmas funções e pode ser instalado no servidor local - nós do Espaço Liberdade o utilizamos e não temos do que reclamar! Google Agenda e Docs podem ser trocados pelas suítes de escritório tradicionais e até o próprio Google pode ser substituído pelo DuckDuckGo, que não deve quase nada em termos de resultados ao site número um do mundo.


É claro que a maioria dessas alternativas não é perfeita: o DuckDuckGo, por exemplo, não possui um serviço de busca de imagens (ainda) e as alternativas ao YouTube, como Dailymotion e Vimeo tem políticas de privacidade e de uso tão assustadoras quanto as do site original. Mas o maior empecilho é o fator psicológico: a maioria dos navegadores já está configurada para exibir o site do grande irmão na página inicial ou quando digitamos algo em sua barra de buscas ou de endereços. Além disso, sentimos-nos mais confortáveis ao utilizar os serviços do Google por termos a impressão de que os resultados do mesmo são mais completos ou corretos do que os outros.


E você: estaria pronto para deixar o Google para trás? Abandonaria o site? O que você pensa sobre a nova política de privacidade? Deixe seu comentário abaixo. Até semana que vem!

7 comentários:

  1. Esses dias estava pensando em como abandonar o Google.
    infelizmente não conhecia o Lavabit e ainda não conheço algum RSSReade online à altura do Google Reader e nem um sistema de calendarios bom.

    o problema maior é a população que se entrega de cabeça ao deus google, à Microsoft e ao Facebook pela comodidade, pelo modismo e pela manutenção de seus habitos.

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  2. Nada é insubstituível, por melhor que a ferramenta seja! Como o próprio texto diz, existem alternativas de buscadores que fazem um trabalho aceitável.. Eu também acabei com a "Googledependência" e deletei minha conta Google (Gmail, Blogspot, Google +) aproveitando a polêmica em relação a mudança dos termos. Quanto ao Dropbox não contem comigo, eu prefiro armazenar meus arquivos localmente, já que não sou adepto da "nuvem" - rsrsrs
    A coisa está tão esquisita que, além dos novos termos de privacidade, agora até o Blogger entrará em uma espécie de censura (http://tecnologia.terra.com.br/noticias/0,,OI5590528-EI12884,00-Google+ira+censurar+blogs+do+Blogger+com+leis+locais.html). Estranho que eles alegam que a "censura" é para adequar os blogs a lei do país do usuário, mas não fazem a mesma adequação nos outros produtos, que geralmente só tomam como base as leis dos Estados Unidos. Não vejo esse problema apenas em relação ao Google, mas também em relação as demais redes sociais famosas, tais como Facebook e Twitter, pois todas essas empresas podem mudar os termos de uso e privacidade de forma unilateral sem consulta prévia dos seus usuários. Só que muita gente reclama dos novos termos, mas não abandona as ditas redes. Esse cenário só mudaria se os usuários fossem unidos e boicotassem essas empresas deletando suas contas quando elas fizessem a alteração sem nos consultar. Claro que as empresas querem lucro (óbvio!), mas deviam respeitar mais seus usuários, afinal elas dependem de nós para obter esse lucro, porque se não houver usuários não há anunciantes...

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  3. Gmail e o buscador é difícil, viu?
    Talvez com buscas em português melhores pelo Duck e um pouco mais de espaço no lavabit sem advertises...

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  4. Eu leio RSS pelo Mozilla Thunderbird e tô muito satisfeito. Recomendo!

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  5. Bom , será que e hora que voltamos ao bom Yahoo ? o que você acham !!

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  6. Considerando-se que o Yahoo!, há alguns anos atrás, quase se vendeu à Microsoft...

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  7. é que... utilizo varios computadores e a sincronização automatica é um fator importante para mim :D

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