Neste último dia 11, foi finalmente lançada a versão 11.4 da distribuição OpenSUSE. Usando Ubuntu com Gnome direto desde 2007, eu senti que estava na hora de tentar algo novo e, assim, resolvi baixar e instalar esta nova versão da distro com KDE, que é o seu ambiente nativo. Aqui, relato como foi o processo de instalação e minhas inpressões da distro.
OpenSUSE, Novell e Microsoft
A primeira coisa que muitos usuários fazem ao ouvir o nome OpenSUSE é torcer o nariz e atirar pedras, pois associam a distro à Novell, empresa recentemente comprada pela Attachmate que, há alguns anos, fez um acordo de patentes com a Microsoft. Segundo estes usuários, por causa disso, o OpenSUSE é uma distribuição do mal e, se você usá-la, você será considerado, nas palavras de Stallman, um Cúmplice do Inimigo e Tux-Allah irá fazê-lo queimar eternamente no Mármore do Inferno.
É claro que essa visão está totalmente equivocada: o OpenSUSE é um projeto comunitário patrocinado pela Novell, que desenvolve(ia) o Suse Linux Enterprise Desktop. Enquanto esta é uma distribuição baseada em GNOME e que está entupida até a borda com o Mono e outras tecnologias licenciadas pelo Império do Mal, aquela é baseada em KDE e, acredite se quiser, não possui um pacote sequer baseado em Mono em sua instalação padrão, logo, a afirmação dos GNU/xiitas não se justifica. A grosso modo, podemos dizer que o OpenSUSE está para o Fedora assim como o SLED está para o Red Hat Enterprise.
O Download
A distro oferece várias imagens ISO nas arquiteturas i586 e x86-64 para download do usuário: um DVD de 4,2 GB que permite instalar o sistema completo, live-cds com GNOME e com KDE, um disco para instalação via rede e um cd com pacotes de linguagem adicionais.
Embora o mais recomendado seja baixar o DVD, não é todo mundo que pode baixar 4,2GB. Assim, eu resolvi baixar o live-cd com KDE. Uma primeira decepção é que o CD só vem com os idiomas inglês, alemão e russo instalados. Conforme você verá a seguir, os idiomas adicionais são instalados via atualização, mas o projeto poderia ter feito uma solução mais elegante: ao invés de disponibilizar um cd com idiomas adicionais que tem uns 500 megas de tamanho e você só usa um pacote, eles poderiam ter feito como a Mandriva que, ao entregar seu Mandriva One, disponibiliza umas cinco imagens do mesmo cd, com pacotes de idiomas diferentes e já completamente instalados. No caso do OpenSUSE, ao selecionar o idioma Português do Brasil na tela de boot, apenas algumas poucas frases ficam em nossa língua: a maioria do sistema permanece em Inglês.
Boot, primeiras impressões e desligamento
Ao iniciar o micro pelo live-cd, você é apresentado a uma tela de boas-vindas e, após, a um menu pelo qual você pode escolher se deseja iniciar o OpenSUSE, instalá-lo no HD, verificar o disco por defeitos, testar a memória ou iniciar do primeiro disco rígido
Dizem que o OpenSUSE tem uma bela splash screen. Infelizmente, eu não pude comprovar se isso é verdade da primeira vez, pois a resolução padrão do framebuffer fez com que meu monitor ficasse fora de frequência (posteriormente, eu consegui diminuir a resolução e resolver o problema). O boot demorou 2 minutos e 23 segundos. Ao iniciar o sistema, você é apresentado à área de trabalho do OpenSUSE:
Aqui eu tive minha primeira impressão positiva: minha placa de vídeo é uma SiS onboard de 2003, ou seja, sem o mínimo de aceleração 3D. No entanto, milagrosamente, no OpenSUSE alguns efeitos 3D estavam disponíveis por padrão, como por exemplo janelas que ficam translúcidas ao serem arrastadas e alguns efeitos ao serem minimizadas. Qual não foi minha surpresa quando, fuçando no painel de controle do KDE, eu descobri que o OpenGL estava ativado! Sim, OpenGL ativado e funcionando com velocidade normal. Além disso, o consumo de memória durante a sessão live-cd era inferior a 300MB, bem menos do que o Solaris 11 Express.
O desligamento também foi rápido, embora eu não tenha visto a tela de encerramento pelo motivo supra citado. O único detalhe é que, assim como o Solaris 11 Express, o CD não é ejetado no final, logo, você deve prestar atenção quando for ligar o micro novamente.
Programas instalados
Ao invés de perguntarmos o que vem no Live-CD do OpenSUSE, seria mais produtivo perguntarmos o que não vem. O sistema é, em uma palavra, completo e tem tudo e mais um pouco que você possa imaginar.
No Live-CD, vem instalado por padrão o cliente de e-mail KMail, o cliente de microblogging (Twitter, Identi.ca) Choqok e o cliente de IRC Konversation. O consagrado gravador de CDs e DVDs K3B está presente, assim como o Amarok e o Kaffeine. O gerenciador de Bluetooth BlueDevil e vários jogos simples e ferramentas de acessibilidade que fazem parte do KDE também estão presentes.
Ao contrário do Ubuntu, que tenta - ao menos até a versão 10.10 - separar os aplicativos em QT e em GTK, o OpenSUSE, que é uma distro que vem com KDE, também oferece vários aplicativos em GTK. O editor de imagens GIMP e o visualizador de imagens GWinView estão presentes na distro, bem como o espartano aplicativo de digitalização XSane.
Outro ponto positivo, e no qual a distro está de parabéns, é que o OpenSUSE é a primeira distribuição a incluir o LibreOffice como suíte de escritório padrão. E, pela imagem acima, você pode ver que eles deram uma repaginada no aspecto visual da suíte. Mais do que isso, a briguinha besta que está acontecendo no Brasil entre os membros da ONG BR-Office foi resolvida: no OpenSUSE, simplesmente não existe BR-Office: mesmo quando você instala o pacote de idioma Português do Brasil, a suíte permanece com o nome LibreOffice, o que deve ser uma tendência para as novas versões das distros. Ponto final.
Em relação ao navegador de Internet, temos duas opções: o já tradicional Konqueror, padrão do KDE, e o Firefox 4 Beta 12. Não sei se foi uma boa ideia colocar um navegador beta em um release final da distro - mesmo sabendo que o RC está aí. Aliás, estou enfrentando alguns problemas com este navegador: a conexão está um pouco mais lenta e, quando eu tento inserir uma imagem neste post, tenho que fazê-lo duas vezes, pois da primeira dá um erro de IO. Além disso, ele não vem com o dicionário PT-BR instalado. Acredito que seria muito melhor que eles tivessem colocado o Chromium 9 mas, enfim.
Já a ferramenta de configuração YaST2 é um show à parte que merce um post especial só pra ele. É como se fosse um Mandriva Control Center, só que melhor. A partir do YaST2, você pode controlar todo o sistema, desde os pacotes instalados até usuários e opções de segurança, sem precisar mexer na linha de comando.
Instalação
Como eu tive que sair depois de testar a distro pela primeira vez, resolvi instalá-la pelo método direto. Pelo visto, fiz a escolha certa, pois o primeiro aviso do instalador foi que meu micro tinha menos do que 1GB de memória e que, portanto, era necessário fechar oalguns programas para continuar. Como só ele estava rodando, ignorei a mensagem (na verdade, meu micro tem exatos 1GB de memória, menos a placa de vídeo...).
O instalador reconheceu minha partição do Ubuntu e se ofereceu para formatá-la e instalar o sistema ali, ao invés de propor um novo particionamento, o que geralmente acontece nas outras distros. O processo de instalação, em si, demorou 12 minutos: nele, ao contrário do DVD, onde os pacotes são instalados na partição, o conteúdo do live-cd é simplesmente copiado para o disco de destino; após, o GRUB é instalado, algumas configurações acontecem e, no final, o programa avisa que é necessário reiniciar o micro e que NÃO vai ejetar o CD.
No primeiro boot, você vê uma tela que fica alguns minutos fazendo algumas configurações iniciais. Após, o sistema é iniciado. Ao explorá-lo, fui no módulo de atualização. Estava disponível uma atualização para instalar o plugin Flash, que não vem, por padrão, no live-cd, mas não foi só isso pois, ao selecionar aquela atualização, ele disse que mais pacotes tinham que ser atualizados (com a distro tendo apenas um dia de existência?).
O que ele fez foi sacanagem: o YaST!, simplesmente, resolveu instalar TUDO que vem na instalação padrão do DVD e que, provavelmente, não coube no CD. Como resultado, quatro horas depois (minha net é de 300K), uma falange de novos programas, que vão desde o comunicador Kopete e um clone do Google Earth até o Midnight Commander, estava disponível. Além disso, ele fez questão de baixar ou atualizar vários pacotes extremamente úteis, como os pacotes de tradução para alemão e russo (No OpenSUSE, as traduções de todos os programas ficam em pacotes chamados Bundle). Tudo isso sem me perguntar se ou quais os pacotes eu queria instalar. Como ele é prestativo!
Coisas estranhas
Algumas coisas estranhas aconteceram depois da instalação. Por exemplo: a placa de som foi detectada corretamente, mas a saída de áudio é configurada em mudo por padrão. Assim, quando fui testar um vídeo no YouTube, pensei estar de volta a 2006, quando fazer o som do Flash funcionar era uma epopeia,
Além disso, um X dentro de uma caixa vermelha apareceu na barra de tarefas do KDE: é o gerenciador de rede, que informa que nenhuma interface de rede está disponível, apesar de a placa de rede ter sido detectada corretamente e eu estar navegando na Internet agora,.
Como se não bastasse, apareceu uma engrenagem aqui dizendo que há uma atualização disponível: é o kPackageKit, que informa que o OpenSUSE 11.4 está disponível. Sim, mas não é esta a versão que já está instalada?
Já o sistema não soltou nenhum aviso em relação à multifuncional: eu tive que, manualmente, instalar o HPlip do YaST2 e usar a interface web do CUPS, o que não é intiuitivo para o usuário final.
Google Chrome, programas e repositórios
O OpenSUSE oferece vários repositórios, um deles chama-se Packman e possui vários pacotes e atualizações mantidos pela comunidade. Infelizmente, este repositório não é completo e vários programas importantes, como o Chromium ou o Google Chrome ficam de fora.
Felizmente, o próprio site do OpenSUSE possui páginas com informações e links de downloads de vários aplicativos populares, como esta, que leva para esta página, a partir da qual é possível pesquisar e baixar pacotes ou instalá-los com apenas um clique.
Infelizmente, eu descobri este recurso tarde demais e acabei baixando o Chrome de seu site oficial. Da primeira vez que tentei instalar o RPM, ele reclamou que o pacote lsb >= 3.0 não estava instalado. Seguindo algumas dicas, utilizei o Zypper, o gerenciador de pacotes da distribuição, para instalar este pacote que, junto a ele, também instalou as bibliotecas Qt3. Após, eu cliquei duas vezes no pacote para instalá-lo e surgiu uma janela dizendo que era necessário atualizar alguns pacotes. Aceitei e surgiu outra janela informando que alguns pacotes estavam sendo baixados mas, meia hora depois, apenas uma barra de progresso ia de um lado para outro e nenhuma informação era mostrada. Acabei matando o processo usando o xkill. Tentei, então, atualizar a base de pacotes usando o Zypper que, por sua vez, reclamou de que a mesma estava trancada pelo KPackageKit. Tive que matar o processo. Após, o Zypper informou que alguns pacotes que estavam instalados não seriam atualizados. Fiquei intrigado com aquilo e fui dormir.
No outro dia, pela manhã, pesquisei o motivo da mensagem. Era simples: o repositório Packman tinha versões mais recentes dos aplicativos instalados, mas o sistema estava configurado para não usá-lo como fonte de atualização. Bastou um clique em um aviso e pronto: tudo foi atualizado.
Assim, resolvi instalar o Google Chrome que havia baixado do site oficial pelo Zypper mesmo. Ele instalou sem problemas, mas quando fui abrí-lo, o programa não entrou. Resolvi chamá-lo pela linha de comando: o executável reclamava que a biblioteca libpng12 não havia sido encontrada - e não havia sido instalada porque o sistema já vem com a libpng14. Tentei criar um link simbólico para a biblioteca já existente, mas não funcionou. Por fim, instalei a dita cuja pelo YaST! e o Chrome abriu sem problemas.
Conclusão
Apesar dos pesares, o OpenSUSE é uma distribuição completa e estável. Embora a distro tivesse a fama de ser pesada, parece que a situação está melhor agora.
A distro se caracteriza por, em alguns casos, oferecer mais de um aplicativo para a mesma tarefa, como o programa de digitalização XSane e o Skanlite. Isso também ocorre com o sistema de atualizações de pacotes, que podem ser realizadas pelo YaST!, pelo KPackagekit ou pelo Zypper. No entanto, cabe ressaltar que, em minha opinião, o KPackagekit é um pouco instável pois, muitas vezes, ele não consegue baixar alguns pacotes e fica "horas" tentando fazer a mesma coisa e bloqueando a base de pacotes.
Ela está à frente de muitas outras distros atuais e conta com uma interface central que facilita, sobremaneira, a configuração do sistema.
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