Para nós, que acompanhamos o nascimento do navegador Mozilla Firefox, é triste vermos que o browser vai de mal a pior. Longe há muito tempo da mídia especializada, ele vem perdendo mercado para seu maior concorrente. Se você nasceu em meados dos anos 90 ou começou a usar a Internet depois de 2005, pode achar que ele é apenas mais um browser, mas neste post, vamos relembrar por que ele revolucionou a Internet e você vai descobrir que muitos recursos que você usa hoje foram criados ou popularizados por ele.
A Guerra dos Browsers
Embora o primeiro navegador web que tenha surgido tenha sido o lendário Mosaic, foi o Netscape o primeiro browser comercial a fazer sucesso. Em 1995, auge da Internet, o Netscape era o navegador padrão e obrigatório nos computadores daqueles que quisessem navegar nos oceanos da Rede Mundial de Computadores. Embora ainda primitivo, se comparado ao que temos hoje, o Netscape era leve e obedecia aos padrões web estabelecidos pela W3C.
A Microsoft - que no ano anterior disse, pela boca de seu dono e fundador, que "A internet é uma moda passageira" -, percebeu que estava perdendo um grande mercado - leia-se: possibilidade de ganhar dinheiro - ao não explorar o nicho do Netscape. Bem verdade, quando do lançamento do Windows 95, a empresa lançou a "The Microsoft Network", uma versão proprietária e paga da Internet, acessível apenas aos usuários de Windows. Como essa ideia evidentemente não deu certo (posteriormente o MSN se transformou em um portal e em provedor, em alguns países), ela se voltou à rede mundial e começou a correr atrás do prejuízo. Incapaz de comprar a Netscape, ela resolveu conta-atacar lançando seu próprio navegador, o Internet Explorer, cuja interface era uma cópia muito similar ao Netscape, mas com um motor de renderização próprio, desenvolvido pela empresa: a Trident Engine.
Como se não bastasse ter desenvolvido uma cópia do líder de mercado, a Microsoft começou a distribuir o IE de graça na Internet e, posteriormente, a integrá-lo com o Windows. Mais grave ainda, o IE se tornou uma parte vital do Windows 98, sendo que era (praticamente) impossível removê-lo do sistema sem danificar o mesmo. Isso foi o estopim para que a Netscape entrasse com um processo na justiça estadunidense acusando a gigante dos softwares da prática de monopólio. Você pode encontrar mais informações sobre o processo nesta página. A acusação se justifica, afinal, o usuário poderia pensar: "Se o meu sistema já vem com um navegador instalado, por que eu preciso baixar outro da Internet?" (Lembre-se que, naquele tempo, a velocidade média de acesso era de 28Kbps e o download de um programinha de 10 megas poderia demorar horas).
Para resumir a história, a Microsoft foi considerada culpada e a justiça decidiu que a empresa deveria ser dividida em duas: uma que cuidaria do desenvolvimento do Windows e outra responsável pelos softwares. Infelizmente, a decisão acabou sendo anulada pouco tempo depois (mas algo que valeu a pena de se ver foi o Bill levando uma torta na cara).
Como prática comercial, a Microsoft não obedeceu aos padrões web e resolveu criar seu próprio dialeto no navegador. Assim, por exemplo, enquanto para definir a largura de um elemento CSS usa-se a propriedade width, o Internet Explorer reconhece apenas _width, que não existe. Isso fez com que as páginas desenvolvidas nos padrões web, que rodavam bem no Netscape, não funcionassem corretamente no IE e vice-versa. Isso forçou os desenvolvedores web a criarem duas versões de suas páginas, uma para cada navegador. Com o tempo, para poupar trabalho.
Durante a década de 90, o IE teve um ritmo de desenvolvimento bastante acelerado. Com o tempo, o Netscape, outrora líder de mercado, teve uma participação cada vez menor. Como última tentativa de se salvar, a Netscape abriu seu código-fonte, dando início ao projeto Mozilla. Posteriormente, a empresa foi adquirida pela AOL que, lentamente, matou o Netscape, até descontinuá-lo em 2007. O IE, então, tornou-se o injusto vencedor de uma guerra inglória.
Uma Nova Esperança
Lá pelo início dos anos 2000, com o Netscape sendo uma ameaça irrelevante, o Internet Explorer tornou-se o líder de mercado. Nisto, os padrões web foram totalmente esquecidos: os webmasters começaram a utilizar tabelas para fazer o layout de suas páginas e o que importava era que o site - muitas vezes feito no FrontPage - funcionasse corretamente no IE. Com o primeiro lugar assegurado, a Microsoft relaxou o desenvolvimento de seu navegador que permaneceu o que era por quase uma década. Basicamente, o Internet Explorer 6, que veio com o Windows XP, era uma janela simples com uma barra de menus, uma barra de ferramentas, uma área para visualizar o site e uma barra de status. Só isso:
Este browser, que se tornou o mais usado do mundo, tinha vários defeitos, como por exemplo:
- Insegurança: O Internet Explorer era um queijo suíço, a porta de entrada para todo tipo de malware. Não raramente, você visitava um site, fechava o navegador e, quando o abria de novo, lá estava uma barra de ferramentas que surgiu misteriosamente. Isso sem falar em spywares e vírus que eram instalados automaticamente, sem seu conhecimento, através do browser.
- Sem abas: Se você estivesse visitando uma página e quisesse abrir um link sem sair da página, sua única alternativa seria abrir uma nova janela. Isso tornava sua área de trabalho e sua barra de tarefas totalmente poluídas (deve ter sido por isso que a MS resolveu agrupar os botões semelhantes no Windows XP).
- Sem bloqueador de pop-ups: Basicamente, naquele tempo, cada vez que você entrava em um site - fosse ele grande ou pequeno - lá aparecia uma janela com um anúncio. Sua única alternativa era fechá-la. O problema é que alguns sites faziam com que um pop-up abrisse outro e, assim, em pouco tempo, sua área de trabalho ficava cheia de janelas (isso sem contar que alguns pop-ups podiam instalar vírus).
- Eu não preciso mencionar a incompatibilidade com os padrões web e o fato de que ele roda só no Windows, preciso?
Isso era tudo que os usuários conheciam. Mas havia uma esperança: segundo a Wikipedia, "Dave Hyatt e Blake Ross, que deram início ao projeto Firefox, diziam acreditar que a utilidade do navegador Mozilla estava comprometida com os interesses comerciais da Netscape (que os patrocinava), bem como a inclusão de funções pouco usadas. Foi então que criaram um navegador separado, o qual visava substituir a suíte Mozilla." Assim, eles começaram a desenvolver um novo navegador que teve de trocar de nome várias vezes durante seus estágios iniciais de desenvolvimento por problemas legais: de Phoenix para Firebird, o navegador se aconchegou com o nome Firefox, algo único. Assim, em Novembro de 2004, um marco foi escrito na história da Internet:
Em pouco tempo, o Mozilla Firefox ganhou a boca do povo. Nunca antes na história do software livre, um programa de código aberto foi tão conhecido e comentado. A Fundação Mozilla, através de seus usuários, conseguiu até colocar um anúncio de duas páginas no New York Times. Mas por que o Firefox tornou-se tão popular?
- Porque ele é seguro: mesmo sendo rodado sobre o Windows, o Firefox é imune aos malwares que atingem o Internet Explorer, fazendo com que o usuário não precise se preocupar em ter seu micro invadido ou seus dados pessoais expostos;
- Porque ele tem abas: mesmo que esse recurso não tenha sido criado pelo Firefox, foi ele quem o popularizou. Agora, o usuário não precisa mais abrir trocentas janelas mas, sim, manter-se mais organizado com uma só janela com vários sites.
- Porque ele bloqueia pop-ups: quantos sites, hoje, você conhece que despejam um pop-up quando você abre sua home page? Pois é, agradeça ao Firefox. Com a ascensão do navegador - e a posterior adoção da solução pelo navegador da Microsoft -, as agências de publicidade foram forçadas a desistir de usar pop-ups para anunciar produtos. Graças ao Firefox, hoje temos uma web mais limpa.
Mas não pára por aí: podemos citar muito mais, como por exemplo as extensões e temas, que permitem que você personalize seu navegador como quiser. Aliás, foram essas extensões que contribuíram para o sucesso do navegador: quando foi lançado, aqui no Brasil, o Orkut estava em alta e, graças à famosa extensão GreaseMonkey, os usuários daquela rede social puderam adicionar recursos ao site e, para isso, precisavam usar o navegador da Mozilla, o que auxiliou para que o mesmo fosse adotado em massa.
Outro pequeno detalhe que ajudou foi a pequena caixa de busca do Google ao lado da barra de endereços: agora, os usuários podiam pesquisar sem a necessidade de abrir outra janela e digitar o endereço do buscador para isso. Os feeds RSS, que hoje são onipresentes em qualquer browser, também foram introduzidos pelo Firefox.
Porém, nem tudo eram flores: uma das reclamações constantes a respeito do Firefox era sobre seu elevado consumo de memória, problema que, até hoje, não foi totalmente resolvido. Além disso, uma das queixas constantes era que vários sites não funcionavam no Firefox (lembro que, naquele tempo, um cara disse que o site XYZ não funcionava no Firefox, a gente dizia que a culpa não era do navegador mas, sim, do webmaster, que não seguia os padrões web e ele retrucou dizendo que, para o usuário final, o que importava não era de quem era a culpa mas, sim, que o site funcionasse direito). Com o tempo, essa reclamação deixou de existir, pois o Firefox levou a uma retomada dos padrões web por parte dos desenvolvedores.
O Império contra-ataca
É claro que a Microsoft não ficou parada. Quando a empresa lançou o famoso service pack 2 para o Windows XP, ela atualizou o Internet Explorer e adicionou um bloqueador de pop-ups ao mesmo. Além disso, posteriormente, ela adicionou as famigeradas abas ao seu browser através de uma barra de ferramentas do MSN. Nisto, surgiu o famoso teste Acid2, o qual provou que nenhum browser no mercado implementava corretamente os padrões web. Apesar de o Firefox não ter passado no teste, seu resultado era incomparavelmente melhor que o do IE6.
Mesmo com os atrasos no lançamento do Windows Vista, no final de 2006 a Microsoft lançou a versão 7 do Internet Explorer que adotou as abas e o bloqueador de pop-ups nativamente, tornou-se mais independente do Windows e implementou melhorias em relação à segurança, como um sistema anti-phishing e um ambiente virtual que "impedia" danos ao sistema, além de aumentar a compatibilidade com os padrões web.
Já o lançamento do Firefox 2 não agradou muito. O browser mostrou-se mais pesado do que a versão anterior e foi uma das versões mais inseguras da história do navegador, tendo várias versões que corrigiam erros de segurança lançadas em pequenos intervalos.
O ano de 2008 reservaria suas surpresas. O Internet Explorer 8, sempre atrás do Firefox em recursos, implementaria o recurso de navegação privativa antes do navegador da raposa. A Microsoft, então, começa uma campanha global para incentivar a migração para uma versão mais recente do IE, em detrimento do IE6 - a qual tornou-se um fantasma. Recentemente, ela lançou o site IE6 Countdown, que tem por objetivo monitorar o uso do browser antigo no globo e conscientizar o usuário da necessidade de migração. Segundo a página, o Brasil é responsável por 2,9% da utilização. O primeiro lugar vai para a China, onde 34,5% da população ainda usa o navegador de 2001.
Além disso, a Google, que até então era uma aliada da Fundação Mozilla, lançaria seu próprio navegador, o Google Chrome, que é mais leve, mais rápido e mais compatível com os padrões web do que o Firefox.
Como se não bastasse, após a Google ter inaugurado um louco ciclo de desenvolvimento que lança uma versão maior a cada seis semanas, aproximadamente, os avanços nas especificações do HTML5 e do CSS3 consolidam-se. O Google Chrome, que é baseado no motor Webkit, oferece um excelente suporte à especificação, ao contrário do Firefox 3.6, que apenas implementa uma fatia mínima das linguagens. Como se não bastasse, vergonhosos atrasos no lançamento da versão 4 do navegador, que teria um suporte mais completo à nova tecnologia, apenas ajudam a manchar ainda mais o nome da raposa, que já lançou incríveis 12 versões betas. O estopim veio quando a W3C disse que o melhor navegador para o padrão HTML5 era, milagrosamente, o Internet Explorer 9, ainda em versão beta. As recentes pesquisas da NetApplications mostram que o Internet Explorer, após vários meses consecutivos de queda e a perda do primeiro lugar, começa a se recuperar, que o Chrome, apesar de ter apenas 10% de participação, cresce cada vez mais e que o Firefox, lentamente, começa a perder espaço.
O Retorno de Mozilla?
Ao que parece, o Mozilla Firefox, que foi sinônimo de revolução e de renovação na Web em meados dos anos 2000, e que libertou os usuários da "tirania" do Internet Explorer, ficou para trás. Tudo indica que, assim como o IE, o Firefox chegou ao primeiro lugar e, então, se acomodou, não vendo que o mundo havia mudado, que seu rival estava acordado, fazendo o dever de casa, correndo atrás do prejuízo e do tempo perdido e que um grande amigo, que antes o apoiava, resolveu seguir seu próprio caminho, andando com suas próprias pernas, usando toda a bagagem que acumulou.
É evidente que o lançamento da versão 4 do navegador vai dar um up na participação do mesmo, mas a pergunta é: por quanto tempo? Hoje, não temos mais apenas um pseudo-navegador que é compatível apenas com os padrões criados pelo seu dono: temos alternativas de qualidade e tudo isso graças ao Firefox. Para que a raposa se mantenha em primeiro lugar, ela vai ter que suar muito; vai ter que trazer algo inovador, diferente e inédito, vai ter que ser mais leve. O Firefox terá que fazer, de novo, o que fez em 2004: reinventar a web.
Isso, é claro, não é fácil com os nomes de peso que se firmaram andando por aí. Mesmo com o Internet Explorer sendo odiado por 11 entre 10 webmasters sérios e profissionais, ele traz recursos ausentes nos outros navegadores, como a centralização do processo de instalação do mesmo em uma rede, o que é excelente para empresas, principalmente aquelas que tem uns 500 computadores; Já o Chrome é tudo aquilo que o Firefox não é, mas poderia ter sido: é leve, limpo, fácil e o mais compatível com a W3C dos três. Independente de quem será o vencedor desta nova "guerra", sabemos que, no final, quem ganha é o usuário, que dispõe, cada vez mais, de opções e alternativas para navegar na Web.
Otimo texto, só pecou em não citar em momento algum o opera, que tem seus usuarios fieis, cheio de funçoes que nao se acha nos outros (mas aos poucos vao copiando). Eu nao sou usuario do opera,
ResponderExcluiruso o chrome, nao pretendo troca-lo tao cedo, apesar que nem todos sites funcionam perfeitamente nele (mesmo tirando notas superiores os outros navegadores) mas funcionam no IE.
Quanto o firefox, eu usei bastante na versao 2, aquelas atualizaçoes semanais chegava a ser stressante, o 3 melhorou muito, mas muitas vezes dava erro em alguma extensão e o unico jeito era fecha-lo, aí comecei a usar o opera, nao lembro a versao, apesar que tinha uns sites que nao abria corretamente, usei até o dia q fui fazer prova online e simplesmente nao tinha como responder e eu perdi uma chance, voltei para o firefox, e depois de um tempo fui dar a chance ao chrome 3, rapido e muito leve, passou a ser meu padrao apartir do 4, sua formula é tao boa, q a Mozilla esta na sua versao 4 do firefox, usando pouco do charme do chrome.
Realmente, eu nunca usei o Opera e é uma pena que um navegador com tantos recursos seja tão pouco utilizado no Brasil, mas devemos lembrar de que as primeiras versões do Opera exibiam anúncios que desapareciam com o pagamento de uma licença, por isso muitos tem o pé atrás com esse navegador.
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