terça-feira, 29 de março de 2011

Linux, Home Banking e GBuster: o que há por trás?

Há alguns anos, quando eu participava do Orkut, foi levantada em uma comunidade se a utilização de live-cds de Linux era a melhor opção para acesso ao home banking. A princípio, todos concordaram, pois o sistema, por vários motivos, incluindo sua arquitetura UNIX e o fato de ter um rígido sistema de permissões, é mais seguro que o sistema dominante no mercado. Além disso, some-se ao fato de que o Linux é virtualmente imune aos vírus desenvolvidos para este sistema e, assim, caso o usuário tenha um vírus bancário instalado em seu computador, este se tornará inútil e sem ação no ambiente live-cd. No entanto, no meio da discussão, surgiu um ávido defensor do sistema proprietário o qual disse que o Linux não era mais seguro do que o Windows pois o sistema livre não tinha o GBuster. Logo, passamos a perguntar o que era isso.

O GBuster é um suposto componente de segurança utilizado por vários bancos brasileiros que tem a missão de impedir ataques de vírus e outros malwares durante a navegação no home banking. No entanto, o sistema despertou algumas polêmicas, a principal é a de que os bancos estariam bloqueando o acesso ao home banking para os computadores que não tivessem a ferramenta instalada. Isso é muito grave pois, como você deve imaginar, a mesma só existe para o sistema proprietário e, portanto, um usuário de Linux seria obrigado a instalar este sistema para ter acesso ao banco de seu computador pessoal.

Mas será que o GBuster é realmente um componente de segurança? Será que ele é realmente necessário? Nesta análise publicada no blog InsaneBits, o autor analisa o processo de instalação e o comportamento do programa. Acompanhe a tradução livre abaixo:



Internet Banking é um dos alvos primários dos ataques phishing. Não é surpreendente que as instituições financeiras vem com uma miríade de soluções para proteger seus clientes. No entanto, alguns bancos no Brasil forçam-les a instalar um software que eu achei no mínimo questionável na forma pela qual afeta o sistema operacional. O software em questão chama-se G-Buster Browser Defense, desenvolvido pela Gas Tecnologia e é atualmente utilizado pelo Bando do Brasil, pela Caixa Econômica Federal, entre outros. Ele oferece proteção contra keyloggers, programas maliciosos, entre outros.

Análise da instalação


Após abrir a página do banco e clicar no botão Acessar, nós chegamos na primeira tela do Internet Banking, na qual inserimos nosso nome de usuário.

Página de login no home banking

Caso não tenha sido instalado ainda, nós seremos solicitados a instalar o módulo de segurança neste momento. Nesta fase você já deve ter notado como o título da janela é marcado com caracteres de pontuação à medida que avançamos nas páginas (mais sobre isso depois). Em seguida, permitimos que o componente seja instalado, levando-nos para a segunda tela, que apresenta o teclado virtual.

Prompt de instalação do "componente de segurança"

Agora que o programa está instalado, o autor da análise utilizou um programa para verificar se o mesmo configurou alguma coisa para ser iniciada junto a seu sistema operacional. Conforme ele verificou, o G-Buster adicionou três novas entradas no Registro do OS. O componente principal é o arquivo gbiehCef.dll, um arquivo que fica em uma pasta dentro da pasta do sistema.

O que realmente assustou o usuário foi o fato de que o arquivo é injetado no processo de logon do sistema operacional, o que significa que o mesmo estará em execução mesmo quando não precisamos dele, consumindo ciclos de CPU.. Ainda, ao monitorar o comportamento do programa através de um software específico, ele verificou que o componente fica verificando o Registro do sistema constantemente, a cada 5 segundos. Ao analisar o que foi pesquisado, nota-se que o GBuster está tentando verificar qualquer tentativa de remoção dele próprio. Embora isto possa servir para prevenir programas maliciosos de desinstalá-lo, ele tambéwm deixa o usuário sem a opção de fazê-lo. Ainda, todas as tentativas de remoção, como remover as chaves de autorun ou tentar apagar o arquivo, falham.

Como conclusão, o autor do artigo diz que o GBuster monitora as chaves do Registro para impedir que um software especialmente desenvolvido possa desativá-lo. Ele embaralha os caracteres do título da página do Internet Banking, talvez em uma tentativa de escapar dos olhos de um keylogger procurando uma determinada página. Talvez ele monitore o uso da Internet tentando achar programas suspeitos de falsificação de identidade. Não está claro se ele envia a informação pessoal ou baixa alguma coisa. Não há nenhuma caixa de diálogo que pede a permissão do usuário. Além disso, o autor cita a preocupação de que, como o componente é o mesmo para vários bancos, é fácil para um cracker hackear o programa e conseguir facilmente acesso a dados pessoais. O programa tem falhas de design e consome ciclos de CPU de maneira desnecessária.

Nossa conclusão


Após ler a análise, concluímos que o GBuster é um software mal-feito, que explora de maneira descontrolada e desnecessária os recursos do sistema proprietário, tornando-o mais lento do que já é normalmente. Não sabemos, ainda, se o software envia informações pessoais do usuário para outrém (alguém com o Wireshark poderia fazer o teste, ou não?) e chegamos à conclusão de que o mesmo é apenas uma ferramenta que, assim como as demais ferramentas de "segurança" desenvolvidas para este sistema, apenas dá ao usuário a falsa sensação de estar protegido contra as ameaças virtuais.

Nós, usuários de software livre, não precisamos de nenhum GBuster para nos proteger, pois nosso sistema já é seguro por padrão. No entanto, sabemos que alguns bancos obrigam os usuários a instalarem a ferramenta. Eu parto do princípio de que, se um banco ou qualquer outra empresa não respeita a minha decisão de escolher o sistema operacional que eu quero usar, então ele simplesmente não merece ter-me como cliente. Se todos os usuários de Linux tivessem essa atitude ante as empresas e as instituições que nos obrigam a usar um sistema ou programa que não queremos, faríamos barulho e elas teriam que nos ouvir.

2 comentários:

  1. Meu maior problema, ao usar Linux, é a "arrogância com relação a segurança"...

    Até agora não tive problemas com o acesso de Internet Bank ou qualquer outro serviço crucial. Espero que continue assim.

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