terça-feira, 5 de abril de 2011

Qual a melhor distro para sua empresa?

As distribuições de Linux voltadas a usuários domésticos geralmente incluem as versões mais recentes disponíveis dos softwares de uso geral. A cada seis meses, vemos uma nova versão com o ambiente gráfico, o navegador, a suíte de escritório e demais aplicativos atualizados. Não raras vezes, alguns releases finais ou estáveis incluem versões beta de programas conhecidos - como o OpenSUSE 11.4, que trouxe o Beta 12 do Firefox 4, atualizado para a versão final poucos dias após o lançamento oficial da distro. No entanto, se você for contratado para prestar algum serviço em alguma empresa saiba que as coisas nem sempre são assim: a Caixa Econômica Federal apenas migrou seus terminais de autoatendimento do Windows NT Workstation 4, um sistema desenvolvido em 1996, para uma versão moderna de Linux em 2009. Por que as empresas demoram tanto para atualizar suas tecnologias? E qual é a distro mais indicada para empresas? É o que vamos discutir neste post.




Novidade vs. Estabilidade



Enquanto os usuários querem as últimas novidades, as empresas querem o que é mais estável e confiável. Embora todos nós saibamos que as novas versões dos programas corrijam bugs conhecidos de versões anteriores, é necessário considerar que novos bugs podem, também, ser introduzidos e, para uma empresa, é melhor ficar com uma plataforma já ultrapassada que faz o que deve fazer e que todos já conhecem decor e salteado do que mudar para a última novidade e ser surpreendido por uma falha dia zero. Este é o principal motivo de as distros ditas "enterprise" virem com softwares aparentemente desatualizados: o desenvolvedor pega aquela versão como base e vai atualizando-a com o tempo, adicionando apenas as correções de segurança das novas versões, em detrimento dos novos recursos. Por isso, uma distro enterprise que ainda use o Firefox 3.0 pode ter todas as correções de segurança até a versão 3.6 aplicadas em seu navegador.



Se está funcionando, não mude!



Outro motivo que contribui para que as empresas demorem a assimilar novidades é a compatibilidade para com os hardwares. Não raro, é possível encontrar ainda hoje servidores Linux com kernel 2.4 ou até 2.2, como algumas universidades estadunidenses, tudo para manter o sistema funcionando. Como assim?



Imagine que a atividade desenvolvida por uma empresa dependa de uma placa PCI específica ou que todos os dados importantes dos últimos anos da firma estejam armazenados em um conjunto de discos SCSI. Agora, imagine que a empresa que tenha fabricado esta placa ou esses discos SCSI tenha fechado as portas ou descontinuado aquela linha de produtos. Imagine, ainda, que o último driver para a placa ou o conjunto de discos para Linux tenha sido lançado em 1999 e funcione corretamente nas séries 2.4 do kernel, mas não instale nas versões mais recentes (como ocorreu com os drivers para modens Smartlink) e que esse driver é fechado e não haja nenhum substituto livre disponível. O que fazer?



A regra de ouro é que todas as empresas querem gastar o mínimo possível e ganhar o máximo possível. Assim, ao invés de comprar uma nova placa ou um novo sistema de discos de outro fabricante, o que poderia implicar em uma nova curva de aprendizado ou indisponibilidade momentânea do serviço - traduzida como perda de capital -, pode ser mais lucrativo para a firma manter os atuais, que estão funcionando bem, em atividade. Por esta razão, muitas empresas ainda utilizam distros consideradas ultrapassadas, como o Red Hat 9, nos dias de hoje ou porque muitas empresas de metalurgia ou eletrônica ainda mantém micros 386 ou 486 com MS-DOS em atividade: as novas versões do sistema da MS dificultam a tarefa de enviar instruções para dispositivos, robôs ou placas acopladas a computadores e, assim, as máquinas antigas ainda tem seu valor.



Você não é o salvador da pátria!



Se você for contratado para trabalhar como gerente de TI de uma grande empresa, é possível que você encontre máquinas de vários fabricantes e vários sistemas diferentes em operação. Um pensamento comum seria: "Vamos uniformizar tudo, com a mesma marca e o mesmo sistema, para termos mais produtividade". Infelizmente, não é assim que funciona.



As empresas grandes, conforme foi explicado anteriormente, preferem manter o que está funcionando a substituir por algo novo. Desta forma, se uma geração de empregados era mais acostumada ao sistema da MS, este foi o que ela instalou; se a geração seguinte era mais do lado software livre, eles mantiveram os servidores MS e apenas adicionaram outros com Linux lá. Como gerente de TI, sua tarefa não será mudar tudo - o que pode acontecer, mas é raro -, mas assegurar que as diferentes plataformas possam conversar umas com as outras.



Pura ignorância



O último motivo que pode fazer com que empresas mantenham computadores antigos em operação é a ignorância de seus donos - principalmente se a empresa não for do setor de TI. Muitos acreditam que computadores são como carros, mas levam essa comparação ao extremo: meu pai tem um Fusca 72 que funciona bem e está em bom estado e, por isso, muitos não sabem que o "prazo de validade" dos computadores é bem menor. Aqui em minha cidade, por exemplo, há um supermercado que já mudou de dono umas quatro vezes nos últimos 20 anos e, até hoje, em 2011, eles utilizam computadores com Windows 95 para as atividades de frente de caixa. Por que eles não mudam? Certamente não é por causa de falta de recursos: é simplesmente porque os atuais estão funcionando bem.



E qual é a distro ideal para empresas?



É sabido que (quase) nenhum usuário doméstico reclamará de, ao ter algum problema com sua distro, ter de procurar ajuda no Google ou de postar suas dúvidas em um fórum mantido pela comunidade ou pela empresa criadora. No entanto, para uma corporação, as exigências são maiores: imagine que você, como gerente de TI de uma empresa que possui filiais em vários países, receba um alerta de que o banco de dados parou de funcionar às quatro da manhã de sexta-feira. Isso pode significar perdas tamanhas para a empresa e este erro deve ser corrigido o mais rápido possível! Se você pedir ajuda em um fórum, já que ninguém lá é pago para lhe ajudar, pode ser que você receba a solução em alguns minutos, em algumas horas, em alguns dias ou, quem sabe, nunca receba. Por isso, empresas precisam de um suporte profissional, o qual possibilite que um problema qualquer possa ser resolvido rapidamente por um profissional altamente capacitado a qualquer hora do dia ou da noite. Além disso, a distro deve ser estável, evitando que aplicativos travem ou que dados sejam perdidos sem mais nem menos.



Por isso, uma distro para empresas não pode ser rolling release, visto que a estabilidade pode ser comprometida e o nível de atualizações seria muito alto, nem ser uma distro comum que lance uma nova versão a cada seis meses, pois ficar atualizando o servidor duas vezes por ano "é dose".



Assim, as distros mais indicadas para empresas, ao meu ver, são: Red Hat Enterprise Linux, CentOS, Debian e Ubuntu LTS.



O Red Hat sai na frente como alternativa muitas vezes padrão, visto que muitos aplicativos são homologados para o mesmo. Um ponto forte é que cada release é suportado por sete anos, o que garante que os equipamentos e softwares que você usa hoje poderão continuar rodando por um longo tempo - ao menos se depender da distro. Além disso, os planos de suporte oferecem atendimento tanto em horário comercial quanto 24x7 com preços anuais que começam em $349 para servidores e $49 para workstations, mas que podem chegar a milhares de dólares, o que se paga com o tempo. [1]



Já o CentOS é a versão comunitária do RHEL, mas eu tomaria cuidado com ele: até agora, os caras não lançaram a versão 6, o que faz com que muitos estejam migrando para o Scientific Linux. Seu tempo de suporte é o mesmo da distro irmã, mas comunitário, isto é, não espere que uma boa alma vá lhe atender às três da manhã.



O Debian é conhecido por sua estabilidade, pois os pacotes passam por testes rigorosos antes de serem aceitos na versão estável que, por este motivo, frequentemente já nasce desatualizada. O ciclo de vida é de 2 anos, a distribuição é gratuita e o suporte é comunitário.



Já o Ubuntu LTS é a versão de suporte de longa duração da distribuição, voltada especialmente a empresas - o que não impede que o mesmo seja utilizado por usuários finais. Usá-lo pode ter algumas vantagens, afinal, é a distro mais conhecida atualmente e você pode instalá-lo sem contratar um plano de suporte se não quiser. A Canonical oferece três anos de suporte para workstations e cinco para servidores, bem menos do que a Red Hat. Os preços por um ano de suporte variam de £ 66.32 a £ 104.21 para desktops e £ 202.11 a  £ 757.91 para servidores [2] e tem a desvantagem de o atendimento ser em Inglês.



Conclusão



Vimos que as necessidades de usuários domésticos e de empresas são diferentes e que as últimas demoram a atualizar seus sistemas pois querem manter intacto o que está funcionando bem. Vimos ainda que uma distro ideal para empresas deve ter um suporte profissional de longa duração e ser estável. No entanto, tudo depende das necessidades: se você está trabalhando para uma firma pequena, nada lhe impede de instalar uma distro enterprise comunitária como CentOS ou Debian, mas se o negócio é mais profissional, converse com seu chefe e discuta a possibilidade de contratar suporte técnico.



[1] https://www.redhat.com/apps/commerce/
[2] http://shop.canonical.com/index.php?cPath=41 e http://shop.canonical.com/index.php?cPath=41_39

2 comentários:

  1. De todos estes, sinceramente, acredito que o RHEL e o Debian sejam as melhores opções.
    O Ubuntu falha na estabilidade e o CentOS falha na "arrogância e descaso" de seus mantenedores. Sem falar que estão parados no tempo...

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  2. Realmente, tanto que estas duas são, de fato, as mais usadas em todo mundo.

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