quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Por que grandes nomes do SL estão trocando Linux pelo Mac?

Há poucos anos, a discussão Linux vs. Windows era um dos assuntos de destaque em blogs de tecnologia e em redes sociais. Nos dias de hoje, porém, ela parece ter sido deixada em segundo plano e trocada pela briga Android vs. iOS.


Um fato curioso que chama a atenção em vários sites sobre software livre é que muitos de seus mantenedores estão, sistematicamente, substituindo o sistema GNU/Linux pelo Mac OS X, da Apple. A que se deve essa mudança? Será que faz sentido mudar? É o que vamos analisar nesse artigo.



Quando iniciei minha caminhada pelos sites e fóruns de tecnologia, ainda no tempo do quase-falecido Orkut, percebi que a maioria dos usuários tinha uma escala ou escalada de ascenção tecnológica: o usuário, em seus primeiros passos com o computador, atuando como se fosse um visitante no admirável mundo novo da tecnologia e da www, começaria usando Windows, que é, infelizmente, o sistema mais utilizado do mundo e, provavelmente, o primeiro contato de qualquer um com a tecnologia, seja em casa, no trabalho ou na escola. Após anos de sofrimento nas mãos da Microsoft, com telas azuis, vírus, travamentos e problemas em geral causados pelos famosos cracks, o usuário procuraria por uma solução melhor e descobriria, então, o software livre, na forma de GNU/Linux. No começo, ele apenas roda uma distribuição live-cd de vez em quando, depois, arrisca um dual boot. Nsse meio tempo, usa o Windows cada vez menos e, por fim, arranca-lhe do disco rígido, substituindo-lhe inteiramente pela distro de sua preferência. O último passo, segundo essa cronologia, seria o usuário trocar o Linux pelo Mac OS X, que seria a perfeição em forma de software, com uma interface gráfica elegante e fácil de usar, onde tudo funciona da forma mais simples possível e que, por compartilhar a mesma base Unix, possui a maioria dos comandos e utilitários encontrados no GNU/Linux.


Esse roteiro parece estar sendo seguido à risca por grandes nomes do software livre nacional, de todas as áreas. Apenas para citar alguns exemplos, o maior site de notícias colaborativas sobre Linux do Brasil, o BR-Linux, de Linux só tem o nome. Seu mantenedor, Augusto Campos, há tempos é, assumidamente, um ávido usuário e defensor da Maçã. Se, antes, como expresso nos comentários desse arigo, o site sofria com os noobs vindos do site Baboo, que aterrissavam de pára-quedas nas reportagens só para dizer algo como "mimimi, a interface gráfica é melhor" ou "mimimi, o Windows tem mais joguinhos", hoje o site é sabotado pelo seu próprio criador que, vez que outra, nele publica links para artigos de sua outra página, o BR-Mac, inteiramente dedicado ao mundo da Maçã, ou de sua coluna no TechTudo. Ainda de acordo com os comentários do artigo supracitado, o proprietário da maior loja on-line voltada ao software livre, a Linux Mall, também teria trocado os pinguims pelas maçãs.


A princípio, você deve estar pensando qual o problema disso, afinal, cada um usa o que achar melhor. No entanto, quando a pessoa em questão possui um sério compromisso ou identidade para com o software livre, é necessário ponderar várias coisas.


Primeiro, é necessário criticarmos a ideia de que existe um sentido evolutivo em Windows - Linux - Mac. Afirmar que tal sentido é uma evolução em relação ao sistema operacional que utilizamos em nosso dia-a-dia é algo extremamente questionável. Quando migramos do Windows para o Linux, estamos substituindo uma plataforma proprietária por outra livre; no entanto, quando, depois disso, trocamos o Linux pelo Mac, estamos trocando uma plataforma livre por outra proprietária. Nesse aspecto, não está havendo uma evolução mas, sim, uma regressão, pois estamos abdicando de nossa liberdade conquistada para voltarmos a usar algemas que, dessa vez, nos são impostas por outro senhor, que parece ser mais cool e sexy. Além disso, vários pontos favoráveis à troca dos pinguins para as maçãs, como a qualidade do hardware, a interface do OS X e o sistema operacional em si, não se revelam tão favoráveis se analisados criticamente.


Talvez um dos mais fortes argumentos a favor da troca pela Maçã seja a excelente qualidade do hardware vendido pela empresa. Nesse ponto, não há muito o que se discutir, visto que o sistema operacional é desenvolvido para cair como uma luva para aquele equipamento. No entanto, um bom hardware não é exclusividade da Apple. Desde 2005, os Macs, em um aspecto estritamente técnico, nada mais são do que PCs comuns, utilizando, inclusive, um processador da Intel. Tudo bem que a qualidade dos computadores da Apple esteja muito além os PCs de outras marcas ou montados que temos por aí, mas um bom técnico em Informática, com sólido conhecimento em hardware, pode facilmente montar uma configuração com peças escolhidas a dedo que seja tão ou mais estável do que os produtos oferecidos pela Maçã e, na maioria das vezes, custando duas ou três vezes menos.


A premiada interface do OS X, além de não ser uma unaminhdade por todos os usuários, pode ser facilmente emulada - ou imitada, se preferir - em várias distribuições de Linux. utilizando pacotes de temas e de ícones, papéis de paredes e aplicativos adicionais que simulem sua dock.


O OS X, em um ponto de vista técnico, não oferece maiores vantagens do que o GNU/Linux. A maior parte de seus utilitários de linha de comando e aplicativos - como Bash, Vi, GCC, entre outros - são utilitários presentes em qualquer distro voltada ao usuário final. Além disso, o OS X não possui, nativamente, algo como um gerenciaor de pacotes, presente na maioria das distros, que facilita e centraliza a instalação, a remoção e a atualização dos softwares instalados. Não podemos esquecer, ainda, que pelo fato de o OS X ser fechado, ele trás, de volta, todos os problemas inerentes aos softwares proprietários, como a pirataria de software (ou você acha que todos os usuários de Mac compram Photoshop original?).


Assim, vemos que as desculpas para se trocar do Linux para o Mac são facilmente refutáveis e que o sistema livre pode oferecer tudo e mais um pouco que é dado pela Maçã. Devido à sua naturea Unix-Like, acredito que um sentido correto para a evolução do sistema operacional que utilizamos em nossos desktops, se é que existe uma evolução, seria Windows - OS X - Linux pois, dessa forma, após conhecermos um pouco mais do mundo Unix, conquistríamos nossa liberdade.


A questão muda de foco quando tentamos apresentar o software livre ao usuário de Mac porque, assim como nós, o Mac-User sabe que o Windows é aquele sistema que devemos deixar no cantinho e esquecer que ele existe. O problema é que ele talvez já tenha experimentado o GNU/Linux e não gostado do mesmo por alguma razão e, como sabemos, o argumento de que a pessoa vai ser mais livre trocando as maçãs pelos pinguims está longe de ser um argumento decisivo na discussão.


Eu considero que a pessoa engajada em alguma causa deve ter um mínimo de comprometimento (e de coerência) para com a mesma. É aceitável sabermos que vários usuários e defensores do software livre usem Windows em seu trabalho ou em casa, por causa de faculdade ou de colégio. Isso não diminui o mérito deles. No entanto, quase nunca podemos aplicar o mesmo raciocínio àqueles que trocam o Linux pelo Mac devido aos motivos já apresentados, sendo o principal deles o alto preço de aquisição da plataforma, o que indica que o usuário de Mac quer, realmente, usar Mac, e não como no caso do Windows, onde o mesmo geralmente é obrigado porque deve rodar um programa específico indicado pelo seu empregador ou porque aquele professor exigiu que tal trabalho fosse entregue em formato .doc, não aceitando uma conversão vinda do LibreOffice, por exemplo.


O fato de o OS X já vir com vários softwares livres, como os utilitários de linha de comando, o servidor Apache, o Cups e outros não é suficiente para qualificá-lo como um sistema livre - e, de fato, sua licença é mais restritiva do que a do Windows. Já é um começo que o usuário de Mac tenha contato com essas ferramentas livres, mas não é o bastante. O GNU/Linux é o único sistema do mundo que podemos considerar ético, pois dá ao usuário a liberdade de usar, de estudar e de modificar o sistema. Se você trocou o Windows pelo Linux e está pensando em migrar para Mac, seria melhor ter continuado no mundo das telas azuis.

10 comentários:

  1. Este artigo está muito bom. Meus parabéns.

    Realmente, quem sai do Windows para Linux quer liberdade. Partindo para o OSX esta perdendo a liberdade. E se é para perder a liberdade que seja com o SO mais conhecido e com mais recursos(programas).

    Liberdade = Linux
    Prisão = Windows e OSX

    Viva o Linux!!!

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  2. O FISL está povoado de Macs, eu acho isso um pouco sem sentido estamos lá justamente pra falar de SL. E o que deu origem a isso foi o projeto GNU.
    A proposito no blog do Stallman tem um post falando justamente
    por que você não deve comprar produtos Apple.

    Sabem! é mais que usar Linux, é uma filosofia de vida.
    Isso deveria estar muito mais em voga para nos desenvolvedores.

    E uma empresa com politicas espartanas, o que não faz nenhum sentido, eu não apoio.

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  3. "O GNU/Linux é o único sistema do mundo que podemos considerar ético, pois dá ao usuário a liberdade de usar, de estudar e de modificar o sistema."

    Você se esqueceu do BSD.

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  4. Gostei de seu ponto de vista, mas quem troca o Linux por um Mac OS, deve estar pensando em realmente na junção do Hardware com o Software, um vez que foi criado para ter a experiência de uso total em relação ao Mac... Por que realmente o Mac tem uma bela aparência, mas mesmo assim prefiro meu Linux mil vezes. Como citado é só pesquisar uns temas e pronto, ou você mesmo o faz!

    E em relação ao Office do Windows.. e o Wine?!? por que ñ citou?!? O Microsoft Office vai de boa bem configurado.

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  5. Primeiramente, eu uso Linux e detesto o Windows.
    Sobre o seu texto: Augusto Campos não trocou o Linux pelo OS X, ele usa os dois - o próprio Augusto escreve isso neste texto (http://br-linux.org/2012/do-linux-para-o-mac-1-ano-depois-relato-de-migracao/) , acho que é sobre ele que você estava falando.
    No dia seguinte ele publicou um artigo sobre um usuário Linux que usou o OS X e não gostou (http://br-linux.org/2012/do-linux-para-o-mac-e-de-volta-ao-linux-um-mes-depois/).


    Na minha opinião quando alguém que usa Linux durante anos, e ajuda a comunidade, resolve trocá-lo pelo OS X está ciente da falta de liberdade que terá, mas considera que as vantagens dele (obviamente o OS X tem vantagens) são maiores, este usuário prefere fazer a transição.

    Eu sou usuário Linux há anos e sei que ele é um ótimo Sistema Operacional, mas não é perfeito. Assim como o OS X também é um ótimo Sistema Operacional, mas também não é perfeito.

    Por fim: do que adianta usar um S.O. que prega a liberdade, mas não poder ser livre para deixar de usá-lo?

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  6. Eu comecei no Mac. Fui "macmaníaco" até 2007, depois migrei para o Linux e mergulhei no Fedora e OpenSuse. Hoje, estou trocando tudo pelo FreeBSD.

    Eu poderia fazer um comentário gigantesco com comparações, mas vou dizer o seguinte: O OSX não é apenas uma interface bonita, é um sistema realmente robusto e muito eficiente em TUDO o que faz. Não penso em voltar pra ele, mas ainda o considero o "melhor" em muita coisa, e posso dizer com franquesa, todos os outros OS tem muito a aprender com esse sistema. Compara-lo ao Windows é um grande equívoco e, mesmo sendo apoiador e entusiasta do software livre, a migração "Linux>OSX" não me parece nenhum absurdo, especialmente porque eu conheço os dois mundos em questão...

    Só pra constar, o OSX foi projetado apartir do sistema Darwin, que foi totalmente criado apartir do FreeBSD 6. As semelhanças e virtudes herdadas do Unix vem daí.

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  7. Em tantos anos de estrada na informática esta é a primeira vez em que vejo um artigo escrito de forma inteligente e clara. Concordo em todos os pontos. Eu mesmo já fui usuário de um Macintosh ( como eram conhecidos os Mac ) durante muito tempo e migrei para windows onde passei muito tempo, então migrei para a plataforma Gnu/Linux desde 1999, onde estou até hoje, e satisfeito com os resultados. Realmente acho correto o pensamento desta linha evolutiva. Parabéns.

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  8. Saí do Windows para o Ubuntu por um motivo principal: o Windows é MUITO caro pasta um sw tão bugado, que praticamente só evolui o visual de versão para versão, mantendo (ou até piorando) bugs históricos.

    Porque não o Mac? Porque é extremamente caro! O suposto baixo custo do SO não leva em conta o altíssimo custo do HW, que só aceita o dito SO. Este último deveria, no mínimo sair de graça.

    Uma distribuição Linux como o Ubuntu, apesar de ainda não ser totalmente usável pelo usuário "comum", é, na minha opinião, a única opção honesta dentre essas três.

    O Ubuntu está massa, leve, bonito, estável e facílimo de instalar. E não custa NADA!

    Se colocar pra rodar num HW fodástico, fica fodástico ao cubo.

    Cara que cuida de software livre pagando pau pra Mac ou Windows?! Vasa, parte pra outra!

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  9. Saí do Windows para o Ubuntu por um motivo principal: o Windows é MUITO caro pasta um sw tão bugado, que praticamente só evolui o visual de versão para versão, mantendo (ou até piorando) bugs históricos.

    Porque não o Mac? Porque é extremamente caro! O suposto baixo custo do SO não leva em conta o altíssimo custo do HW, que só aceita o dito SO. Este último deveria, no mínimo sair de graça.

    Uma distribuição Linux como o Ubuntu, apesar de ainda não ser totalmente usável pelo usuário "comum", é, na minha opinião, a única opção honesta dentre essas três.

    O Ubuntu está massa, leve, bonito, estável e facílimo de instalar. E não custa NADA!

    Se colocar pra rodar num HW fodástico, fica fodástico ao cubo.

    Cara que cuida de software livre pagando pau pra Mac ou Windows?! Vasa, parte pra outra!

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  10. Concordo el alguns pontos com o autor do texto.
    Vai depender do que cada pessoa necessitar. Eu dou um exemplo. Milhoes de pessoas usam plataforma movel android e iOS nos dias de hoje (eu inclusive apenas uso um iPad),mas meu telemovel ainda é um nokia velho com symbian e ainda me serve perfeitamente. Gostavade usar um iphone? Claro que gostava,mas não preciso de momento. O Autor fala que é possível escolher um hardware tão bom ou melhor do que o que a Apple monta em seus produtos. Aqui discordo pelo seguinte: como tecnico de informática pode-se montar um hardware absurdamente superior, até torres de 150 mil dólares se for necessário,mas há um ponto muito importante e que faz toda a diferença e não interessa o quão superior seja o hardware: a firmware de cada componente de hardware que a Apple desenvolve, isso tudo enviado num pacote de acordo com a versão do sistema operativo que a pessoa use. Esse é um dos trunfos da estabilidade do Mac OSX. Logo, é lógico que muito raramente, para não dizer impossível que se seja capaz de comparar Windows, Linux e OSX. A Apple vai ao ponto de fazer fontes de alimentação (no caso de Mac Pro) que detectem uma UPS e que não arranca caso seja ligada fora da UPS se detectar um pico de corrente,cabos internos de power blindados magneticamente, ventoinhas com pás assimétricas, componentes como placas gráficas postos de modo a que o PCB nao receba o próprio calor gerado, zonas quentes e menos quentes divididas hermeticamente and so on...Conclusão, paga-se um produto como um todo,bem pago, e por isso ha quem goste de andar com as algemas por um sistema intuitivo,geralmente fácil, automático.

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