quarta-feira, 3 de março de 2010

Distribuições "Amadoras" em risco?

Um tweet que foi repassado aos seguidores do Twitter do nosso blog me deixou com uma pulga atrás da orelha durante toda a última semana. Vou reproduzi-lo aqui.



ubuntudicas RT @vsenna: A cada nova versão do ubuntu uso menos o terminal pra configurar o sistema. Thx canonical



Vou confessar a vocês que pensei umas duas mil vezes antes de escrever essa postagem. Aviso previamente que as opiniões que eu vou expressar nesse post podem não agradar a todos - principalmente os fãs calorosos do Ubuntu - e que, por ventura, podem afastar muita gente aqui do Blog. Mas, como eu já havia dito, precisei dar a minha opinião. Tenho que dizer também que não tenho absolutamente nada contra os autores do tweet, eles tem a opinião deles e eu tenho a minha. É só isso.



As distros que surgiram com o foco no "usuário final" são muito bem vindas, é óbvio. São elas que aproximam os usuários Windows do mundo Linux. Mas, com excessão talvez do Ubuntu, as distros com facilidades para usuários finais não são feitas por super gênios da computação, mas por usuários normais que, talvez como você que está lendo este post agora, já não entenderam absolutamente nada sobre o sistema, aprenderam e, depois de algum tempo, resolveram contribuir com a comunidade. É o caso de uma das maiores - se não a maior - distro Linux do Brasil que é o Big Linux.



Quando a gente começa a falar excessivamente em "usar menos o terminal", começamos a correr o risco de iniciarmos uma marcha fúnebre em direção ao mesmo caminho que o Windows segue: alguns poucos desenvolvem e muitos usam. E esses muitos precisam praticamente dobrar os joelhos as escolhas, certas ou erradas, feitas por esses poucos. Quando falamos em "aposentar" o terminal, estamos praticamente matando o espírito de aprendizado e colaboração da comunidade que acompanha o Linux desde sempre e criando uma dependência perigosa em relação a esses poucos.



O grande perigo de iniciar uma geração de usuários que apenas usam o sistema e não o compreendem é bem clara: descontinuação do ciclo de distribuições "amadoras" que trazem o Linux para mais perto dos usuários de uma certa comunidade e o enfraquecimento dos principais programas Open Source feitos pela comunidade. Os desenvolvedores que estão trabalhando atualmente nas distribuições menos profissionais não são eternos e, cedo ou tarde, podem ter algum problema que os leve a descontinuar seu trabalho. Se não houver um usuário, ou um grupo de usuários aptos a levar o trabalho em frente, mesmo que por outro caminho, aquela comunidade fica sem a sua distribuição.



Esse efeito pode gerar uma onda que acabará deixando de pé apenas as distros com maior poder financeiro e mais profissionais. É o risco eminente do mundo Linux ficar nas mãos da Canonical, Red Hat, Novell e, talvez, Mandriva. Um ambiente em que o usuário pode ficar sem a sua distribuição a qualquer momento, uma vez que todos os principais produtos distribuidos livremente por essas empresas são comerciais e, não havendo retorno financeiro, podem e serão - sem nenhum tipo de dor na consciência - descontinuados.



É necessário que o usuário que chega ao Linux tenha consciência de que, apesar de toda e qualquer facilidade que ele encontrar, ele precisa aprender a utilizar o sistema. A abrir um terminal e não sair correndo de medo; a não usar a sua senha de root para executar qualquer comando que ele encontrar pela internet;a ter uma saída em modo texto para quando aquele maravilhoso aplicativo gráfico der problema por qualquer motivo.



Essa postagem não tem a intenção de iniciar uma campanha contra os programas e tudo o que o mundo Linux vem conquistando nos últimos anos. É simplesmente uma defesa do terminal, um alerta para o risco da dependência excessiva de facilidades, um aviso sobre o eminente emburrecimento que essas facilidades maravilhosas podem causar nos usuários Linux. É um grito, talvez solitário, para alertar a todos que os usuários experientes não são eternos e que, sem peças de substituição para eles, vão acabar ficando na mão de poucos, ou de um só, como os usuários Windows.

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