terça-feira, 9 de novembro de 2010

O lado sombrio das redes sociais e a liberdade de informação

Twitter, Facebook, Orkut. Hoje em dia, redes sociais são praticamente uma extensão de nossas vidas. Assim como ocorreu com o celular na década de noventa, se há alguns anos elas não existiam, hoje é praticamente impossível viver sem elas. No entanto, saiba que as redes sociais escondem um lado sombrio que muitas pessoas preferem fingir que não existe.

Tudo começou nos idos de 2004, quando um funcionário turco da Google com um sobrenome praticamente impronunciável resolveu lançar um site com seu nome. Em pouco tempo, o Orkut se tornou uma febre nacional e foi dominado pelos brasileiros. O motivo, novamente, era um fator psicológico: você não podia simplesmente entrar no Orkut, era necessário ser convidado por alguém que já estivesse lá dentro. Novamente, temos uma prática behaviorista: o fato de você estar do lado de fora atiça sua curiosidade e faz você desejar saber o que existe além da página de login; Uma vez dentro, você é recompensado por fazer parte do seleto grupo de usuários - e ter o poder de colocar quem você quiser lá dentro. Em pouco tempo, surgiram os clones ou concorrentes: os mal-sucedidos nacionais Beltrano e Gaia e o sucesso mundial Facebook.

No começo, tudo era um mar de rosas: você podia conhecer novos amigos, reencontrar parentes que não via há muito tempo e conversar sobre assuntos de seu interesse. O tempo, porém, faria as pessoas abrirem seus olhos.

Pouco tempo após a criação do Orkut, começaram a pipocar denúncias de pedofilia na rede social. Além disso, foi descoberto que a rede também servia de ponto de encontro para neonazistas, traficantes e pessoas que cometiam todas as contravenções penais inimagináveis. Fora da esfera criminal, casamentos e relacionamentos foram destruídos por Orkut, Facebook e companhia. A mulher descobria uma foto, scrap ou post comprometedor do marido e era uma vez um casal de pombinhos.

Tudo isso continua e, debalde os inverossímeis esforços da Policia Federal para fechar a rede social, ela continua lá, acessível para quem quiser entrar nela visto que, hoje, não precisa mais de convite. Porém, o ponto é mais em baixo.

Eu tinha um vizinho de uns 13 anos. Quando ele perdeu a mãe, nessa idade, ele foi morar com os tios. Com o tempo, vendo o Orkut dele, eu descobri algo que não queria ter visto.

Todos sabemos que a adolescência é a fase onde o indivíduo está afirmando sua identidade. Sem ser mais criança e não sendo ainda adulto, ele se desliga gradativamente do círculo familiar paterno e fica cada vez mais identificado com seu grupo social. Nessa idade, o adolescente quer duas coisas: primeiro: auto-afirmação. Ou seja, ele quer superar limites. Se existe uma regra de que ele não pode atravessar uma calçada, ele vai querer atravessar essa calçada para provar para ele mesmo que ele pode fazer isso. Segundo: respeito de seu grupo social. Ao se auto-afirmar, o adolescente conquista o respeito e a admiração de seus amigos e outros adolescentes que compartilham os mesmos gostos que ele. Ele, então, dissolve sua identidade pessoal e assume a identidade do grupo: qualquer ameaça a ele passa a ser interpretada a uma ameaça a todo o grupo - e não a um indivíduo em particular.

Mas o que esse garoto fez? Ele entrou em comunidades e perfis de bondes. Mas o que são bondes? Segundo ele próprio, bondes são "grupos de pessoas". Ele, é claro, esqueceu de completar: "grupos de pessoas que roubam, matam, fazem pichações e não têm respeito por nada e por ninguém".

Gangues de rua sempre existiram e sempre vão existir mas, agora, elas tem uma nova arma a seu favor: as redes sociais e o MSN. Através destes recursos - que foram, sem sombra de dúvida, criados com as melhores intenções possíveis - verdadeiros criminosos aliciam garotos e garotas de 12 a 18 anos, em média, para entrarem nestas gangues. E por que? Novamente, entra em cena o behaviorismo: se antes, ter sido convidado para entrar no Orkut era um símbolo de status, o mesmo está ocorrendo aqui: aquele garoto que é deixado de lado na escola, ao entrar no bonde, começa a receber mais atenção dos outros membros de seu ambiente escolar - principalmente, das garotas, que começam a querer sair com ele para compartilhar de seu status ante suas outras amigas.

O bonde também é utilizado como desculpa para a subversão social (uia!). Este garoto que citei conseguiu atrair outros garotos que continuam em minha rua para essa vida. Uma vez dentro, não há lei ou limite. Eles dizem: "A vida é minha e eu faço o que eu quiser", "Quem é você para me dizer o que fazer?" ou, se você insistir, "Eu vou pegar o meu bonde pra te quebrar.". Eu já ouvi as três frases, vindas da mesma pessoa. Uma vez engajado neste grupo social, eles deixam de temer os adultos, a polícia ou, até mesmo, a prisão, que é vista como segundo lar, onde eles vão encontrar outros membros de outros bondes.

Estes bondes, atualmente, além de aliciarem menores pelas redes sociais, postam as fotos das pichações que fizeram em seus álbuns sem nenhuma vergonha ou temor - mesmo, talvez, sabendo que tais fotos constituem uma prova criminal contra eles próprios por depredação de patrimônio. Além de se exibirem, eles usam Orkut e Twitter para marcarem brigas em plena luz do dia - conforme aconteceu recentemente em Porto Alegre. Sim, esse cenário não é mais exclusivo do Rio de Janeiro ou de São Paulo: já está presente em todo país, graças às redes sociais e à fúria adolescente. Se sempre existiu, agora, graças à internet, está com força total e quase insuportável. E acredite em mim: essa situação não é exclusiva das famílias de baixa renda: muitos filhos de famílias de classe alta estão entrando nessa para ter status.

O maior problema, no entanto, não é a arrogância, mas a certeza de que, em muitos casos, esses jovens não enxergam o óbvio: que, na maior parte das vezes, uma vez dentro, eles não podem mais sair dessa vida - ou apenas podem sair dela dentro de um caixão. Eles não enxergam isso.

Quanto ao garoto, eu falei o que estava acontecendo para os tios deles. Eles disseram que conversaram com o mesmo e ele havia dito que havia saído dos bondes que tinha entrado. Da última vez que olhei o Orkut dele, ele havia voltado para todas as comunidades e perfis que eu havia ajudado ele a apagar. Foi por isso que, desde então, não tenho mais Orkut e nem aceito mais convites para entrar nessa rede, pois sei que, se voltar lá, vou querer ver o perfil dele e descobrirei o que não quero.

Aí, os usuários de software livre vem reclamar da lei do senador Azeredo, que segundo eles vai restringir a liberdade de expressão. Gente, liberdade tem limite; libertinagem, não.

E você, já viu quais as comunidades/amigos/contatos do seu vizinho pequeno/filho/irmão hoje?

2 comentários:

  1. Muitas coisas que ficariam camufladas normalmente vem a tona nestas redes sociais, principalmente pq tem-se uma falsa impressão de acolhimento nelas, sim tbm tem o cheretamento de amigos,e de terceiros, que diminuiu um pouco com o cadeado no album, pagina de recados, depoimentos e etc, mas ainda de certa forma existe. Eu tenho orkut, xereto alguns dos meus amigos, principalmente familiares e pessoas queridas, e é por causa delas que meio que me sisto "preso" a rede social, claro que os jogos tbm ajudam. Abraços e parabéns pelo post.

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  2. Nossa amigo, Post sensacional, parabens pelo blog e continue assim, mas hoje em dia tem diversas possibilidades de se comunicarmos entao se nun for de um jeito é de outro =C

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