terça-feira, 24 de maio de 2011

"Windows é melhor do que Linux": será?

Como vocês sabem, como eu já disse, na última semana eu comprei um notebook da Acer que veio com o Windows 7. Agora que estou usando o sistema, posso fazer uma comparação imparcial entre as diferenças do sistema proprietário e do sistema livre. Em muitos fóruns na Internet, a maioria dos usuários berra para todo mundo ouvir que Windows é melhor do que Linux. Será que eles estão certos? Ou será que eles escondem algo que não querem que você saiba?



Segmentação de mercado


Um conceito importante que devemos ter em mente antes de prosseguirmos é o de segmentação de mercado. De acordo com a Wikipedia, segmentação de mercado é a divisão de um mercado em pequenos grupos. Tal divisão visa a maximizar os lucros da empresa diante do público consumidor. Por exemplo: vamos supor que você é dono de uma fábrica de papel higiênico. Como empresário, você quer atingir todas as classes sociais, mas não pode fazer isso com o mesmo produto: o consumidor da classe A vai se recusar a comprar o mesmo papel higiênico dos consumidores das classes D e E e estes não terão dinheiro para comprar o papel destinado à elite. Qual a solução? Segmentar o mercado! Sua fábrica criará um papel folha dupla perfumado para as classes A e B, um papel só com folha dupla para a classe C, um papel com folha simples para a classe D e um papel folha simples mais dura para as classes E e F. Desta forma, todos os segmentos comprarão seu produto e você terá o maior lucro possível.


No mundo do software proprietário, isso também acontece: não são raras as empresas que lançam um software "Home" para usuários domésticos e "Professional" para empresas. É claro que a versão Home é mais barata e tem menos recursos. No caso do Windows, a Microsoft o segmentou em várias edições, que vão desde a Starter, para netbooks e computadores populares, até a Ultimate, que possui todos os recursos possíveis e imagináveis. Neste caso, foi a empresa quem decidiu quais as limitações de cada edição: a Starter impossibilita o usuário de trocar o papel de parede, a Home Basic não tem efeitos 3D no desktop e por aí vai. O problema é que, como meu laptop veio com uma placa 3D e o Windows HB não tem efeitos 3D, os recursos da placa são subutilizados.


Já no mundo do software livre, excluindo-se algumas distros voltadas para empresas - como as várias edições do Red Hat Enterprise Linux, por exemplo - a segmentação de mercado através do software não existe. O Ubuntu, o Fedora, o Debian, o Mint que estão disponíveis para os usuários domésticos de todas as classes sociais são os mesmos que estão disponíveis para os usuários corporativos, com os mesmos recursos. Isso se deve ao fato de que, em geral, os mantenedores de distribuições não visam ao lucro através da distro, mas sim através do suporte técnico que, este sim, é segmentado em várias opções: geralmente fórum gratuito para usuários domésticos e várias opções de suporte telefônico para empresas.



32-bit vs. 64-bit


Nos dias atuais, estamos vivendo uma transição da plataforma de 32-bit para a plataforma de 64-bit e, assim como ocorreu em meados de 1995, os programas para as duas arquiteturas coexistem em uma (quase) perfeita harmonia.


Este é um dos pontos cruciais nas diferenças entre Linux e Windows: por aquele ser um sistema aberto, é mais fácil compilar os programas para diferentes arquiteturas. Por isso, hoje, você pode, se quiser, construir um sistema Linux totalmente em 64-bit, do kernel ao navegador de internet.


Já em relação ao Windows, o cenário é bastante diferente: o que pude perceber é que existe uma inércia, um receio ou até uma má-vontade dos desenvolvedores de programas para a plataforma em adotar a nova arquitetura. O resultado é que mesmo que você tenha um sistema de 64-bit instalado na máquina, a maioria dos aplicativos que você irá encontrar e instalar em seu computador ainda são para 32-bit. Em particular, vários programas, como Google Chrome, que estão disponíveis para 64-bit no Linux, só existem em 32-bit para Windows, tanto que o sistema vem com dois Internet Exporers instalados: um para cada plataforma. A maioria dos programas na nova arquitetura disponíveis ou são freewares pouco conhecidos ou são voltados para segmentos específicos.


Aí você vai me perguntar: qual o problema? Vários! Em primeiro lugar, o sistema precisará utilizar uma camada de emulação ou de compatibilidade para rodar o programa de 32-bit no ambiente de 64-bit, o que resultará em um maior consumo de memória. Além disso, os programas de 32-bit continuarão presos à limitação da plataforma como, por exemplo, a capacidade de utilizar "apenas" 4GB de memória, mesmo que você tenha uma quantidade maior instalada. No Linux, isso praticamente não acontece. O lado positivo, porém, é que alguns drivers, como o do wireless, funcionam corretamente - embora o driver da minha multifuncional tenha sido de 32. Ponto para o Linux, que oferece a possibilidade de termos um sistema homogêneo em relação à plataforma.



Repositórios de softwares e atualizações


Outra diferença brutal entre Linux e Windows diz respeito à forma como você obtém e atualiza programas em seu computador. A maioria das distros atuais trabalha com o conceito de repositórios de pacotes, isto é, um servidor central que concentra todos os programas e bibliotecas que podem ser instalados em seu sistema. Na prática, isso significa que você pode, através de um único local - seja um programa gráfico um uma linha de comandos -, pesquisar, instalar, remover e atualizar todos os seus programas, independente de quem seja o desenvolvedor.


Já no Windows, a situação é outra: embora o sistema venha com o famigerado Windows Update, tal utilitário apenas permite que você atualize os programas da Microsoft. Ou seja, se você tiver programas de outros fabricantes - e todo mundo tem -, ou você mantém instalados vários programas de atualização, um para cada software, desperdiçando espaço em disco, ou você corre atrás da atualização.


Correr atrás é uma expressão que lembra do próximo ponto negativo: é o usuário quem deve garimpar a Internet em busca dos programas que precisa: não existe um local central dentro do próprio sistema para download de software. Aí você vai me dizer: "Ah, nós não temos um repositório de pacotes mas temos sites de download, como Baixaki ou Superdownloads, que são a mesma coisa". Bem, eu digo: não são a mesma coisa. Os repositórios de pacotes oferecem muito mais do que softwares: eles oferecem segurança e garantia ao usuário. Se você usa Fedora e vai instalar o pacote xyz através do yum, ao digitar o comando é como se você estivesse ouvindo a frase: "Nós, mantenedores do Fedora, garantimos a você, usuário, que o pacote xyz que você está instalando não possui quaisquer códigos maliciosos e vai funcionar corretamente em seu sistema". Sites de download não fazem isso: eles apenas se limitam a agrupar links para executáveis que estão em servidores de terceiros: eles não tem como verificar a segurança destes servidores, nem garantir ao usuário de que aquele programa tem um código malicioso, estará sempre disponível ou vai funcionar no micro do usuário. Resumindo: ponto para o Linux, que oferece uma maneira centralizada de obter e de atualizar software.



O Básico do Básico


Acredite se quiser: você não precisa nem de Windows nem de Linux mas, sim, de softwares para realizarem as tarefas de que você necessita. O sistema operacional, neste caso, é um mero coadjuvante na execução destes programas. As pessoas tendem a citar como uma das vantagens do Windows o fato de ele ter mais programas, mas não é verdade: existe um número de programas igual ou até supoerior para Linux e outras plataformas. Mas o ponto aqui é outro:


Quando você instala uma distro voltada ao usuário final, esta geralmente vem com o ambiente gráfico, uma suite de escritório (Libre/Open Office), navegadores de Internet (Firefox), programas de mensagem instantânea (Pidgin/Kopete), programas de tratamento de imagem (Gimp), programas de desenho vetorial (Inkscape), entre outros. Ou seja: ao instalar uma distro Linux, é grande a possibilidade de que você encontre, logo de cara, tudo que necessita.


Já no Windowsm o negócio não é bem assim. Se você instalar apenas o sistema, ele virá apenas com um conjunto de aplicativos básicos: o Paint, que nem se compara ao Gimp, o Wordpad, que tem recursos muito limitados de edição de texto e o Bloco de Notas, para notas rápidas.


O Bloco de Notas merece um parágrafo só para ele: no GNOME, o equivalente a este software é o GEdit, que possui, entre outras coisas, suporte a plugins, corretor ortográfico, abas para agrupar na mesma janela vários arquivos abertos e, principalmente, destaque de sintaxe, o que torna cômodo e prático editar pequenos scripts em PHP, em C ou em outra linguagem de programação. Se o Windows é melhor do que Linux, o Bloco de Notas deveria oferecer mais recursos que o GEdit, mas não é isso que acontece: o Bloco de Notas não suporta plugins, não oferece corretor ortográfico, não permite abrir mais de um arquivo na mesma janela e, principalmente, não tem suporte a destaque de linguagem: é um programa bastante limitado. O Windows só fica completo e comparável ao Linux quando você gasta mais dinheiro do que você já pagou pelo sistema para adquirir o MS Office e outras ferramentas absolutamente necessárias. Ponto para o Linux, que oferece um ambiente mais completo ao usuário.



Menu Iniciar


Os menus iniciar dos vários ambientes gráficos para Linux são organizados e intuitivos. Por exemplo: se eu quiser gravar um CD, tudo que eu preciso fazer é ir em Aplicativos - Multimídia - Gravador de discos Brasero. Já no Windows, eu devo ir em Iniciar - Todos os programas - Nero - Nero Burning ROM, por exemplo. Isto quer dizer: para acessar um programa no Linux, eu apenas devo saber o que eu quero fazer e, no Windows, eu preciso decorar o nome de todas as fabricantes de software existentes. O processo não é intuitivo, mas apenas parece porque nós já estamos acostumados. Ou será que se você não soubesse que Photoshop é um programa de edição de imagens pensaria que é um programa para comprar fotos pela Internet? Ponto para o Linux.



Áreas de trabalho


Qualquer ambiente gráfico atual, tanto GNOME e KDE quanto Fluxbox e companhia, oferecem a possibilidade de se utilizar mais de uma área de trabalho - em geral, quatro. Assim, você pode, por exemplo, colocar o navegador de internet em uma área de trabalho, o e-mail e o messenger em outra e o processador de textos ou planilha em mais uma. Isso aumenta consideravelmente a produtividade. Já o Windows vem com apenas uma área de trabalho disponível, o que resulta em um acúmulo bestial de janelas sobrepostas. Embora exista um PowerToy que adicione a famigerada funcionalidade, ele não vem instalado por padrão. Ponto pro Linux.



Conclusão


Após anos usando Linux, usar Windows é como voltar no tempo - e não estou me referindo ao saudosismo dos primeiros computadores: falo no sentido mais pejorativo da expressão. O Windows é um sistema que parou no tempo e perdeu vários pontos no quisito de usabilidade, de oferta inicial de aplicativos e seus recursos e que só é mais usado porque as pessoas estão acostumadas a ele. No momento em que fazemos uma análise imparcial do sistema, sua máscara cai e vemos que o mesmo é bastante limitado se comparado a uma distro Linux atual voltada ao usuário final.

6 comentários:

  1. Levantai vossos escudos e vossas espadas oh nobres guerreiros, porque há de vir, breve, a resposta raivosa do ultrapassado exercito dos M$ FANBOYS da distante e perdida ilha GATES. :-P
    Otima postagem. Abraços!

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  2. Ai que meda! Vamos nos preparar! Todos a seus postos!

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  3. Excelente texto! Eu utilizo os dois sistemas e sei bem destes pontos. Embora esteja muito satisfeito com linux, ainda sinto falta de algumas aplicações do windows. Infelizmente os desenvolvedores de grande nome ignoram o linux ainda... e não temos como negar que isso faz falta para muitos usuários... seria bom não depender de programas feitos para o windows!

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  4. Seria excelente! A moral é que não devemos esperar pela boa vontade dos grandes desenvolvedores de software e precisamos nos unir e ajudar os projetos já existentes, ao invés de ficarmos apenas reclamando de que nossos programas não tem os recursos suficientes e necessários. []'s

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  5. Adorei o post e acredito que seja isso mesmo que você falou. Além do problema de segmento de mercado, há as empresas que fazem convênios com a Microsoft dificultando a migração de muitos usuários. Ainda bem que o número de máquinas que vem com alguma distro GNU/Linux é crescente e favorece em muitos aspectos.

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  6. Exatamente. Não apenas dificultando a migração como também limitando a liberdade de escolha, afinal, sabemos de várias empresas cujos modelos de computadores vendidos perdem a garantia se o sistema original for substituído.

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