terça-feira, 6 de setembro de 2011

O que o Wikileaks tem sobre Linux, Windows e Microsoft?

Após o recente vexame no qual Julian Assange entregou a senha de um arquivo super secreto no Wikileaks para um jornalista que vazou tudo, o que obrigou o site a liberar mais de 250 mil telegramas de embaixadas estadunidenses de 1966 até hoje, eu fui tomado por uma intensa curiosidade e perguntei: o que os yankees estao falando sobre software livre?



Como encontrar o formulário de busca no WikiLeaks é mais difícil do que achar uma agulha no palheiro, existem vários sites que fazem esse trabalho para você, como o cablegatesearch.net, que já arquivou todos os telegramas vazados.


Uma pesquisa no site pelo termo Linux resulta em 19 telegramas encontrados; "free software" nos dá 21. Nomes como Linus Torvalds e Richard Stallman não tem correspondência. Buscas por Microsoft nos dão incríveis 955 telegramas e Windows retorna 1323 correspondências (é claro que nessa lista pode haver um mesmo telegrama que aparece em várias buscas ou que não esteje relacionado ao que estamos procurando).


Como eu não tenho tempo para ficar lendo tudo isso, mostrarei para vocês trechos de alguns telegramas interessantes que encontrei relacionados ao Linux. Mas, primeiro, vamos a um aquecimento:



Ubuntu


Uma pesquisa por Ubuntu retorna 5 telegramas. O primeiro da lista diz que a África do Sul está pronta para a Copa de 2010 e que "eles (os sul-africanos) encapsularam o espírito de Ubuntu [ou bondade humana]". Todos os outros telegramas no qual a palavra foi encontrada a utilizam nesse sentido, exceto em um que fala do meio ambiente, da ciência e da tecnologia sul-africanos em 2009, mencionando em seu final que "Em 2002 o empresário sul-africano da internet Mark Shuttleworth, então com a idade de 28, se tornou o primeiro astronauta da África. Três anos depois, Google adotou o software Ubuntu de Shuttleworth como seu sistema operacional interno".



Fedora


Não há referências à distribuição Fedora; dos dois documentos encontrados, um menciona algém chamado Dr. Fedora Quattrocchi e o outro menciona alguém que é fotografado sempre com um chapéu fedora preto, dando-lhe a aparência de um mafioso do início do século XX.



Linux, Windows e Microsoft


Finalmente chegamos à parte que todos estavam esperando. Segure-se na cadeira, lá vão três documentos bombásticos:


Microsoft, Government Ink Contract


Nesse telegrama de Agosto de 2006, é dito que o governo de Omã recentemente havia concluído um acordo de três anos com a Microsoft no qual pagaria 5 milhões de dólares por ano para usar os produtos da empresa que, em troca, investiria apenas 3 milhões de dólares anuais em programas de treinamento para empregados do governo e a comunidade em geral.


O acordo abrangeria 22.500 licenças de software para desktops, o que possibilitaria ao governo daquele país atualizar sua plataforma Windows. O parágrafo seguinte explica que "A Microsoft inicialmente assinou um contrato com Omã em Junho de 2000, pouco antes da adesão do sultanato à Organização Mundial do Comércio. A relação não se desenvolveu, no entanto, resultando em uso contínuo do governo de Windows 98 ao invés de atualizar para o Windows 2000 (ou seja: eles estavam usando Windows 98 até 2006!).


O telegrama diz que a iniciativa vai ajudar a melhorar o uso da tecnologia no país e que, naquele momento, a aquisição de produtos piratas estava mais difícil naquela nação.


Mas será que você entendeu direito o que está escrito nesse documento? Vejamos: o governo de Omã paga 5 milhões de dólares à Microsoft para atualizar seus desktops; em troca, a Microsoft investe 3 milhões de dólares no desenvolvimento no país. É óbvio que a Microsoft pegou esse dinheiro da quantia que o próprio governo pagou a ela. Em resumo: o governo de Omã paga pelas licenças dos programas e, sem saber, por todas as benfeitorias da Microsoft no país, que no final das contas não terão custo algum para ela, o que a faz posar de mocinha e, de quebra, sair com dois milhões no bolso. É mole?


In Vietnam, The Government Is Microsoft's First Target


Embora haja um aviso de que o documento é parcial e que sua totalidade não está disponível, o telegrama de 2004 diz que, naquele país, a taxa de pirataria atinge níveis de 95% de acordo com a BSA. De acordo com o texto, a Microsoft estaria preocupada com o interesse em sistemas baseados em Linux, temendo que por causa dele ser mais difícil de usar, os escritórios que oficialmente mudaram para Linux em breve voltarão para os programas piratas da Microsoft.


O documento diz que a Microsoft reconhece que seus produtos não são flexíveis em relação aos preços e que eles estariam impedidos de vender seus produtos com grandes descontos para o mercado vietnamita ou qualquer outro por causa de um decreto assinado com o Departamento de Justiça dos EUA (coitadinhos deles, não é?).


O documento ainda diz que a promessa de software mais barato ou gratuito baseado em Linux - que segundo ela é falsa - é outra questão. É dito que a Microsoft delineou vários motivos de por que, em seu ponto de vista, o Windows seria uma escolha melhor. Todos os motivos apontados pelo telegrama são facilmente refutáveis: primeiro, a empresa afirma que seria difícil para o usuário médio de Windows mudar de sistema; depois diz que os sistemas baseados em Linux requerem um maior conhecimento técnico por parte do usuário final e - acredite se quiser - haveria um problema maciço de compatibilidade porque a maioria das pessoas usa Windows e seria difícil se comunicar e trocar dados entre os sistemas Linux e o resto do pessoal que usa Windows, isso sem falar na "relativa escassez de softwares de terceiros que rodam em qualquer coisa diferente de Windows". Eles ainda dizem que 70% dos clientes que migraram para Linux na Tailândia voltaram a usar Windows pirata depois de alguns meses e que ninguém aguenta usar Linux por muito tempo. Só um pouquinho que eu vou dar uma gargalhada depois dessa. Mesmo que o documento seja de 2004, dá pra acreditar que a empresa mudou tanto de atitude e de pensamento em relação ao sistema livre? Estou começando a desconfiar que aquele vídeo de aniversário que a MS fez para o Linux deva ter alguma mensagem subliminar.


E agora, prepare-se para uma verdadeira...



BOMBA! Microsoft ajudou antigo governo da Tunísia!


Quando eu já tinha encerrado essa matéria, eis que vejo no Twitter um link para uma matéria do ZDNET na qual é dito que a Microsoft teria ajudado o antigo regime da Tunísia, recentemente derrubado. Segundo a reportagem, a empresa de Redmond tinha muito interesse em que o governo da Tunísia encerrasse sua política de favorecimento de softwares de código aberto que concordaram em criar um programa sobre crimes cibernéticos. O acordo também possibilitou ao governo tunisiano obter acesso ao código-fonte original de vários programas da Microsoft. Por acaso você lembrou da lei Azeredo agora?


A Microsoft também se ofereceu para ajudar o governo a modernizar seus computadores e redes. Em troca, o governo deveria comprar 12 mil licenças de produtos oficiais Microsoft, ao invés das versões piratas comumente usadas.


De acordo com a reportagem - e também mostrado aqui - existem outros telegramas que mostram as estratégias da Microsoft para combater o opensource. E tem gente que defende o sistema do tio Bill.


Ainda existe muita coisa naquele site. A história não termina aqui. Em breve, eu, você e todo mundo vai encontrar aquilo que não querem que saibamos. Nesse dia, gritaremos por nossa liberdade. E seremos ouvidos.

Um comentário:

  1. We are linux users! We are legendy! We are a Legion: because we are so many!

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