segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Review:Red Hat Enterprise Linux 7 Beta

Por André F. Machado



Graduando em Licenciatura em Matemática pela UFRGS e entusiasta de software livre.


É permitida a reprodução total ou parcial deste artigo, desde que citados o site de origem e o nome do autor.



Há algumas semanas, a Red Hat disponibilizou, em seu FTP, as imagens ISO da versão de testes de seu novo sistema operacional voltado ao mundo corporativo, o RHEL 7. Esse é um lançamento maior desde a versão 6, que veio a público em Novembro de 2010 e que ainda está recebendo atualizações de segurança (a última foi a versão 6.5, lançada em 21 de Novembro).



A princípio, muitos leitores podem se perguntar do porquê de se fazer uma análise de uma versão de testes. O processo, porém, se justifica pelo fato de que, quando o RHEL for lançado, as imagens binárias não estarão mais disponíveis para download e, desta forma, a versão beta é uma das poucas oportunidades que temos de analisar a distro de forma legal.



O RHEL é pra você?



Muitos leitores e usuários de distribuições caseiras mainstream, como Ubuntu, Fedora e derivados, poderão estranhar o Red Hat e perguntar se vale a pena instalá-lo. Logo de cara digo que não.


Muitos artigos na Internet dão conta das diferenças entre Red Hat, Fedora e CentOS, como esse, publicado aqui há alguns anos.

Basicamente, o Red Hat é uma distribuição atrelada a um contrato de suporte. Para ter o direito de baixar a iso e instalar o sistema, o usuário deve assinar um dos planos da RHN, os quais, além da atualização dos pacotes, também oferecem treinamentos e suporte técnico especializado 24x7 para sua empresa. Para se ter uma ideia da importância desse recurso, basta imaginar que o servidor de banco de dados de uma firma multinacional resolva parar de funcionar às três da manhã de Sábado. O administrador não pode, simplesmente, postar uma mensagem em um fórum e esperar, pacientemente, que alguém de bom humor e de boa vontade poste uma solução mágica – principalmente porque, nas distribuições comunitárias, ninguém é pago e, portanto, não há a obrigação de ajudar quem posta.

Outro ponto que pode deixar os usuários “comuns” desapontados é a forma como são feitas as atualizações. Um usuário que formata sua máquina a cada seis meses para instalar uma nova versão de sua distro favorita pode estranhar o fato de a versão atual do RHEL, a 6.5, ainda vir com o kernel  2.6.32, o Firefox 17 e o GNOME 2.28. Isso ocorre porque, ao lançar uma atualização, a empresa geralmente faz um backport das atualizações de segurança das versões mais novas dos pacotes para as versões originais daquele lançamento, colocando versões mais novas dos pacotes apenas quando realmente necessário. Assim, garante-se que o sistema terá pacotes seguros e que os arquivos de configuração praticamente não precisarão ser modificados durante o ciclo de vida daquela distribuição, que atualmente é de 10 anos.

Logo, o RHEL é indicado principalmente a empresas que, além de necessitarem de um ambiente sólido e confiável, estão dispostas a pagar para obter suporte quando disponível ou que precisam rodar algum programa homologado para essa distribuição. Se sua empresa não precisa de tantas regalias, você pode ser muito bem servido por um dos clones comunitários, como o CentOS, o Scientific Linux ou o Springdale. Já se você for um usuário doméstico que deseja as últimas versões dos programas em detrimento da estabilidade, uma distribuição mainstream gratuita, como o Fedora, o OpenSuse ou o Ubuntu podem ser mais adequadas.



A instalação



Para conseguir o beta, o usuário pode se registrar no site da empresa ou ir direto ao FTP. Logo de cara, vemos que a Red Hat resolveu não disponibilizar uma imagem para os processadores baseados em Intel de 32-bit, o que poderá se traduzir em uma tendência daqui a alguns anos, principalmente no mundo empresarial, que exige cada vez mais velocidade e performance. O sistema, assim, está disponível para as arquiteturas AMD64, PowerPC e SystemZ. Entrando-se na pasta x86_64, vemos que há duas isos disponíveis: uma de 313MB para instalação via rede e outra, de 4,4 GB, para instalação local. Escolha aquela que sua conexão permitir.

Nesta análise, baixamos a iso de 4,4GB e criamos uma máquina virtual no VirtualBox. O sistema exige recursos. Se você quiser usar ambiente gráfico, reserve, no mínimo, 1GB de memória RAM. Além disso, se você instalar o sistema em uma máquina virtual ou computador físico cujo processador tenha apenas um núcleo, receberá logo de cara uma mensagem de alerta dizendo que aquela configuração não é suportada pela Red Hat. Isso não significa que a distribuição não funcionará, mas que o suporte técnico não será responsável por quaisquer problemas que ocorrerem em decorrência desse fator.


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Ao dar o boot, vemos a primeira tela, a qual nos permite iniciar a instalação, testar a mídia por defeitos ou utilizar alguma opção avançada, caso estejamos com problemas para iniciar o processo.

Aqui, mesmo escolhendo a primeira opção, o sistema iniciou a checagem da mídia durante o boot. Neste caso, basta pressionar Esc para cancelá-lo.


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Poucos instantes depois, surge a tela gráfica do Anaconda, o instalador padrão do Red Hat e do Fedora. Eu não sei se o sistema pegou alguma configuração do VirtualBox, mas o fato é que ele já surgiu em Português do Brasil sem que eu precisasse fazer coisa alguma. Se não for o seu caso, escolha e clique em Continuar. O layout do teclado é mudado para o brasileiro automaticamente nas próximas telas.


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Ao clicarmos em Continuar, vemos esse maravilhoso aviso de que você está instalando uma versão de testes e que não devemos utilizá-lo em ambientes de produção. Basta clicar em Eu quero continuar para ter acesso à tela principal do instalador:


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Aqui, vemos que a onda de ícones 2D do Windows 8 parece ter contaminado a turma do chapéu vermelho. Esse é o estilo de ícone padrão usado durante toda a instalação e, também, no ambiente gráfico.

Nessa tela, você tem a oportunidade de fazer várias configurações, como data e hora, idioma e teclado. As configurações mais importantes de que você precisa alterar são a seleção de programas e o destino da instalação, como é avisado no rodapé da tela.


Eu considero um erro, ou um equívoco, a Red Hat não ter dado à seção de seleção de programas o mesmo destaque que deu ao destino da instalação. Se você, assim como eu, não prestar atenção nessa parte da tela, fará uma instalação mínima, que basicamente é apenas a linha de comando sem quaisquer adicionais. Então, a primeira coisa a ser feita é clicar em Seleção de programas e escolher uma das opções disponíveis:



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Note que há opções para todos os gostos e necessidades. O usuário pode escolher o perfil que deseja à esquerda e fazer uma seleção de pacotes mais aprimorada à direita. Eu escolhi a opção GNOME Desktop, por esse ser o ambiente padrão da distro. Mesmo assim, também é possível adicionar um servidor web a essa configuração fazendo a seleção individual no outro painel. Quando tiver escolhido, clique no botão Finalizar, acima.


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A tela de destino da instalação não poderia ser mais simples: basta clicar no disco rígido que se deseja instalar o sistema e pronto. Você também pode refinar as opções de particionamento, deixando o Anaconda particioná-lo automaticamente ou configurar as partições de forma manual.


Aqui, vemos que alguns rumores se confirmaram: o sistema de arquivos padrão é, de fato, o XFS, apesar de o Ext4 e o BTRFS também estarem disponíveis. Além disso, a menos que o usuário diga ao contrário, o instalador irá configurar o disco como LVM.

Após confirmar as opções, clique em Finalizar e no botão Iniciar a instalação.



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Ao melhor estilo Ubuntu, o Anaconda vai instalando o sistema enquanto são configuradas a senha de root e o usuário padrão.

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Nessa tela, você pode definir o nome do usuário, sua senha e se ele será um administrador. Caso você digite uma senha fraca, precisará clicar em Finalizado duas vezes para confirmar que é isso que você quer. Neste momento, é possível criar apenas um usuário, os demais precisarão ser criados posteriormente. Aqui, percebe-se um pouco da cultura corporativa, pois o nome de usuário padrão, a menos que você o mude, será a primeira letra do seu nome mais o último sobrenome.

A Red Hat bem que poderia ter colocado essa parte em um passo anterior e colocar slides sobre o sistema na parte da instalação, pois após configurar os usuários, você terá que ficar olhando para a tela até o Anaconda terminar de copiar os arquivos.

Terminada a cópia e a configuração, o sistema avisará para que você clique em Continuar. Um discreto aviso na parte inferior da tela lhe lembrará de que a utilização do sistema está de acordo com os termos da licença de uso. O instalador ejetará o CD e reiniciará o micro.



A primeira inicialização



Caso você tenha feito a instalação mínima, cairá na linha de comando direto. Se tiver escolhido algum desktop, verá uma tela na qual precisa ler e aceitar a licença do RHEL e, depois, mais duas: a primeira, para configurar o Kdump:



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E a segunda para ativar sua subscrição da RHN, caso haja alguma:
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Lembrando que, na versão beta, você tem direito a 30 dias de atualização do sistema pela RHN. Depois disso, como a versão correspondente do CentOS ainda não existe, você precisará ou comprar a assinatura ou baixar os fontes das atualizações e compilá-los você mesmo :D.


Enfim, a tela de login mostrará o nome dos usuários cadastrados no sistema. Clique no seu para ir à tela de digitação de senha:

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Aqui, é possível configurar teclado, opções de acessibilidade, idioma e, também, desligar o computador. Ao digitar sua senha, entramos no ambiente desktop.



O ambiente desktop



Pelo visto, nem a Red Hat aguentou as “inovações” da turma do GNOME e fez com que o ambiente padrão fosse iniciado no modo de fallback, lembrando em muito a série anterior:



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O menu é altamente organizado e o papel de parede faz um jogo com o número 7. Mesmo assim, se você quiser a versão mais moderna do ambiente, basta levar o mouse ao campo superior esquerdo da tela ou escolher Panorama de atividades, no menu:

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Pessoalmente, acredito que o motivo para a escolha do modo fallback por padrão tenha se dado para facilitar a migração dos usuários das versões anteriores, para não causar um grande choque cultural.

A segurança é um ponto essencial no RHEL, tanto que, mesmo com a rede NAT do VirtuaBox tendo sido identificada corretamente durante a instalação, sua conexão vem desabilitada por padrão, sendo que o usuário precisa clicar no segundo ícone do painel superior para torná-la ativa.

Para quem está vindo de uma distribuição comum, o RHEL 7 Beta pode parecer apenas um Fedora 19 com alguns backports do 20 e, de fato, é isso que ele é, mas devemos nos lembrar que essa será a base da distribuição durante todo o seu ciclo de vida, que é de 10 anos. Por causa disso, a seleção de programas padrão preza, em muito, a estabilidade e o suporte a longo prazo. Tanto que o kernel selecionado é o 3.10, que receberá suporte estendido dos desenvolvedores, e o navegador padrão, igualmente, é o Firefox 24 ESR.



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Nota-se que, por padrão, os pacotes de idioma não foram instalados. O usuário deverá fazer sua instalação manual, posteriormente, caso deseje. Em contrapartida, o navegador vem repleto de plugins: o IcedTea, para o Java (que, na distribuição, vem na forma de OpenJDK 7 update 45, embora seja possível instalar o Java da Oracle paralelamente), VLC, Windows Media, DivX, QuickTime e iTunes Application Detector. Apesar da grande variedade, o sistema não vem nem com o Flash nem com sua alternativa livre, o Gnash. O navegador não vem com quaisquer complementos instalados.

O RHEL ainda vem com o cliente de e-mails Evolution 3.8, o cliente de mensagens instantâneas Empathy, o tocador de músicas Rhythmbox e o programa de fotos Shotwell 0.14. O GIMP e o Inkscape podem ser instalados na seleção de pacotes gráficos durante a instalação. A suíte de escritório escolhida foi o LibreOffice 4.1.3.2.

Apesar do plugin do VLC, o reprodutor de vídeos padrão é o Totem 3.8.2. Ainda existem clientes para conexão remota à área de trabalho. O único jogo que vem instalado por padrão é um clone do tradicional Paciência.

A empresa também caprichou nas funcionalidades menores: quando você aperta Print Screen, ouve-se o barulho de uma máquina fotográfica e a imagem da tela é salva automaticamente na pasta Imagens.
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A instalação de novos programas se dá (no ambiente gráfico) através desse software aí. Talvez seja porque eu não use GNOME, mas o achei um pouco espartano, visto que é necessário digitar algo para iniciar a listagem dos pacotes disponíveis e ele é um pouco lento para retornar resultados. Por trás dele, porém, quem gerencia os pacotes é o yum 3.4.3.



Servidores



Não é novidade que a principal aplicação do RHEL hoje esteja no mundo dos servidores e não nos desktops. Por causa disso, a versão beta do RHEL 7 vem com uma seleção de peso, começando com o Apache 2.4.6 e o PHP 5.4. De forma polêmica – e antevendo o futuro, o RHEL 7 substituiu o tradicional MySQL pelo seu fork MariaDB, na versão 5.5, o que poderá representar um grande impacto daqui há alguns anos, visto que a plataforma é muito utilizada em empresas de hospedagem web. O concorrente PostgreSQL também está presente, em sua versão 9.2. Na parte de virtualização, o sistema já vem com suporte ao KVM, ao Xen e ao HyperV. Para os desenvolvedores, é interessante saber que a versão padrão do compilador GCC é a 4.8.


Ferramentas da Red Hat


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O menu Sistema ainda possui um atalho para configurar o Red Hat Access, uma ferramenta automatizada para análise de problemas  e obtenção de suporte técnico. Já o menu Outros oferece links para a meteorologia, para as notas de lançamento do RHEL – que exibe uma página que pede para se clicar em um link do site da empresa -, e para gerenciar a subscrição da RHN, bem como para fazer uma nova assinatura.


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Conclusão



O RHEL7 vem com várias novidades que, em um primeiro momento, podem ser polêmicas e vistas com desconfiança pelo público ao qual ele se destina. Embora apenas o tempo possa dizer se ele será ou não um sucesso, sabemos que, de certa forma, essa nova versão, bem como a versão final, certamente influenciarão as novas distribuições mainstream de Linux disponíveis para os públicos corporativo e doméstico.

Para saber mais

notas de lançamento com descrição dos pacotes disponíveis e removidos da distribuição https://access.redhat.com/site/documentation/en-US/Red_Hat_Enterprise_Linux/7-Beta/html-single/7.0_Release_Notes/index.html

Artigo independente que explica algumas das decisões da empresa, como a de manter o GNOME em modo clássico http://searchdatacenter.techtarget.com/news/2240185580/Red-Hat-discloses-RHEL-roadmap


notas de lançamento com descrição dos pacotes disponíveis e removidos da distribuição.

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