quarta-feira, 2 de março de 2011

Canonical, Banshee e o silêncio na Blogosfera

Vocês podem achar que é mentira, podem pensar que eu estava louco de vontade de me manifestar sobre esse assunto, mas a verdade é que eu não queria. Semana passada inclusive eu enviei um email para os outros membros do Espaço Liberdade pedindo que os mesmos tocassem no assunto por mim, mas eu obtive o silêncio como resposta. Logo, cabe a mim trazer os fatos que estão ocorrendo ao público brasileiro. Vou tentar observar o comentário da nossa amiga @fatimamd no meu último post sobre o Ubuntu, e ser o menos pessoal e mais informativo possível. Juro que vou tentar.



Começo dizendo que, apesar das minhas diferenças com o Augusto Campos do Br-Linux, o blog dele foi um dos únicos que postou sobre o assunto, além de mim no meu blog pessoal. O silêncio dos blogueiros que postam cada passo do Ubuntu, tanto da versão estável, quanto da versão em desenvolvimento, diante desse caso realmente me deixa triste. Eu já havia falado sobre isso no meu post sobre a vergonhosa contribuição da Canonical com o Gnome e, infelizmente, preciso falar de novo. As mesmas bocas que babam vocês sabem onde do Mark Shuttleworth deveriam falar dos erros, principalmente quando são tão evidentes.


Não creio que eu precise falar dos fatos que vem acontecendo em relação ao Banshee no Ubuntu, para mais detalhes peço que leiam o post no meu blog pessoal. O fato é que, resumidamente, o Banshee vem com a Amazon MP3 Store e envia os lucros obtidos totalmente para a Gnome Foundation, fundação por trás do ambiente gráfico Gnome. A Canonical ficou de olho nesse percentual, agora que o Banshee é player padrão do Ubuntu, e resolveu "comer" 75% do valor e deixar 25% para a Gnome Foundation. Desculpem ter dado a notícia desse modo, tão a seco, mas é que só de me lembrar disso eu fico furioso.


O meu desejo inicial após ler essa notícia, era boicotar o lançamento do Ubuntu 11.04 aqui no blog e, junto com o lançamento, qualquer informação relativa a essa versão. O Espaço Liberdade iria ignorar o lançamento da versão 11.04, assim como sua existência na Terra. Inclusive enviei a proposta aos outros membros do blog que acabaram vencendo o meu voto. Decidimos por informá-los de tudo o que anda acontecendo e deixar que vocês, usuários Ubuntu, decidam se o caminho que está sendo seguido pela empresa por trás da distribuição é o correto.


Não pensem errado, não quero que a Canonical construa o Ubuntu eternamente de graça, sem ter lucros. Como qualquer outra empresa nesse planeta, ela precisa dinheiro para se manter viva. Eu só não acho que ela deva pegar esse dinheiro de quem também não tem. Simples assim. A situação me lembra um desempregado roubando um mendigo, o desempregado rouba o dinheiro do mendigo para ter algo para levar para casa, mas esquece que o mendigo tem ainda menos que ele e precisa desesperadamente do dinheiro que lhe foi tomado.


Ontem pela manhã, eu ainda tive o total desprazer de ler a tentativa de Mark Shuttleworth de apaziguar os ânimos em seu blog que, entre outros absurdos, fala isso (tradução retirada do Google Translator, não tive estômago para traduzir, sinceramente):




Quanto à parcela da receita que temos oferecido a equipe Banshee, eu adoraria vê-los usar isso para fazer o Banshee ainda melhor. Isso é o que deveria ser feito. Não seja tímido, não fique nervoso de levar o dinheiro e usá-lo para seu próprio projeto. A Canonical já proporcionou muito mais na forma de financiamento para a Fundação Gnome do que isso.



Ok, vamos pensar na afirmação acima. O Banshee destina 100% do que lucra com a Amazon MP3 Store para a Gnome Foundation. Lá vem a Canonical e pega 75% para si e deixa 25% para a Gnome Foundation. E depois disso, se o golpe já não fosse forte o suficiente, ela inicia um incentivo para que os desenvolvedores do Banshee não façam a doação nem desses 25%, dizendo que já faz o bastante pelo Gnome. Como assim?! Eu tenho que lembrá-los disso?


Eu esperava que alguma consciência viesse da comunidade Ubuntu, mas no log da reunião dessa semana, nós tivemos isso (também traduzidos pelo Google Translator):




Eu mantenho o princípio, porém, que os honorários gerados no ubuntu devem beneficiar primeiro o Ubuntu.


Se uma pessoa usa o Ubuntu para comprar música na Amazon, a Canonical recebe o dinheiro e irá compartilhar o montante com os projetos que nós pensamos que tornaram isso possível.



E o pior dos comentários:




Na nossa opinião, o Banshee tem direito a uma quota. Eles tem indicado que querem as receitas para apoiar a Fundação GNOME. Assim, se eles concordam, nós vamos enviá-lo para lá. Se colocarem os dedos nos ouvidos e línguas para fora, nós vamos colocá-lo para uma boa utilização nós mesmos ;-)



Não tenho muito a dizer sobre o egoísmo, o egocentrismo e a falta de espírito de comunidade presentes nos comentários acima. Convivendo com o pessoal do Fedora como eu convivo, isso chega a machucar meus olhos e me deixar extremamente triste. De verdade. Não que os Fedorans sejam perfeitos, mas mesmo os mais #FromHell não fazem comentários desse tipo (ou pelo menos eu nunca tive o desprazer de ler). Basicamente, uma parte dos usuários Ubuntu chegaram ao ponto de acharem que é o Ubuntu (que só empacota e coloca na distro) que deve decidir pra onde vai o dinheiro que é gerado através do aplicativo e não o desenvolvedor que teve o trabalho de construir o programa e tem o trabalho de manter o mesmo.


O post acaba aqui, não tenho a mínima intenção de colocar uma conclusão. Esse post tem começo, meio, mas o fim quem faz são vocês. A conclusão fica para a cabeça de cada um, fica para o que cada um pensa que é o espírito do código livre e como ele deve ser aplicado e vivenciado. Também aproveito para reafirmar o compromisso do Blog Espaço Liberdade com a verdade e com a Comunidade OpenSource, não pretendemos nos calar diante de nenhum absurdo que venha a chegar em nosso conhecimento. Até a próxima.


Fontes:


http://www.h-online.com/open/news/item/Canonical-to-disable-GNOME-donations-in-Banshee-1191615.html
http://cleitonlima.wordpress.com/2011/02/19/canonical-vs-gnome-ja-foi-longe-demais/
http://espacoliberdade.blog.br/blog/2010/08/ubuntu-finalmente-desmascarado/
http://www.markshuttleworth.com/archives/611
http://irclogs.ubuntu.com/2011/03/01/%23ubuntu-meeting.html#t21:01

14 comentários:

  1. Cleiton,

    Talvez você tenha esquecido um pequeno detalhe, mas que também se faz importante. Essa tal porcentagem obtida, não será destinada ao Ubuntu diretamente, e sim a Canonical. Fonte

    Muitos podem querer te julgar, mas faltaram argumentos. Sou usuário do Ubuntu, e digo não sou a favor desse tipo de coisa. Entendo sua raiva e compreendo que seu texto veio como um desabafo, talvez seu texto morra aqui ou talvez ele sirva para abrir os olhos de outros pessoas, pelo menos eu espero!

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  2. Sinceramente, pelo que o ditado popular diz: "Quem cala conscente..."

    Realmente o pessoal da Blogosfera Linux deveriam se manifestar, principalmente quando é um assunto IMPORTANTíSSIMO desse...

    Infelizmente toda empresa quando chega ao poder quer rebaixar à aquelas que lhe deram tal condição. É assim que o Jobs faz e o Gattes também. E no final todos fazem propaganda que "colaboram" com a comunidade.

    O Ubuntu é uma ótima distro. Porém acho que o Brasil merece uma distro própria onde pensem no LIVRE/GRATIS, pois nosso país ainda é "sub-desenvolvido", e especulam que não somo capazes de tal façanha. O Kurumin nadou e morreu na praia...

    É isso, "NÃO A CANONICAL" e sim ao LIVRE!

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  3. Eu, no Fedora, estou louco para voltar pro "meu" Sabayon.
    Comecei no GNU/Linux pelo Ubuntu e, apesar de ser um bom SO, fico feliz de ter saído.

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  4. Os ditados populares sempre tem um fundo de verdade, com certeza. Realmente, o Mark está longe do nível de sucesso do Jobs e do Gates, mas começa a se aproximar do nível de cara-de-pau de ambos.

    O problema das distros no Brasil é exatamente a falta de um trabalho sério, realmente aberto à ajuda e a criação de uma comunidade ao redor do desenvolvimento da mesma. O Kurumin não se aproximou disso, uma vez que o Morimoto era desenvolvedor único e creio que nenhuma no cenário atual se aproxima disso.

    Obrigado pela presença.

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  5. Verdade, F3N1X, esqueci desse "pequeno" detalhe: além de tudo o dinheiro não vai diretamente para o Ubuntu e sim para a Canonical ( = bolso do Mark Shuttleworth).

    Obrigado pelo apoio.

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  6. Eduardo, gostaria de ter a coragem e a experiência para testar um Sabayon da vida. Deve ser muito legal, mas o Fedora também não é nada mau... ;)

    Abraços e obrigado pela visita.

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  7. bom, eu nunca usei o banshee e nunca comprei música online, na verdade não conheço ninguém que já tenha comprado, enfim se a Canonical pode decidir como vão ser as coisas, nos também podemos, basta não usar o banshee, ou comprar músicas de uma outra forma, eu ainda aprecio os cd's e dvd's não entendi como poucas pessoas aqui entenderão o motivo de fazer drama, quer fazer uma mobilização a faça de uma maneira propositiva e pró-ativa, sugiro que se isso realmente lhe incomoda, faça uma campanha contra o uso do banshee e a compra de música pelo site da Amazon, vai dar mais resultado e vai ajudar as pessoas a terem uma atitude mais próxima da que você está propondo,

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  8. João, creio que você ou não leu o post ou não entendeu o que leu. O problema aqui não é o Banshee, inclusive os desenvolvedores do mesmo foram contra a atitude que a Canonical tomou. Logo, não haveria porque fazer campanha para não utilização do mesmo. Se o caminho fosse esse, seria uma campanha para a não utilização do Ubuntu.

    Em outras distros, a renda gerada a partir do Banshee continuará tendo o distino desejado pelos desenvolvedores do mesmo. Quem fará essa alteração é a Canonical, pegando 75% do valor gerado e deixando 25% para os desenvolvedores do Banshee, que enviam a porcentagem para a Gnome Foundation.

    Além disso, como lembrou o F3N1X, o dinheiro não irá diretamente para o Ubuntu e sim para a Canonical, com a promessa de "investimento em projetos que ajudaram isso a acontecer". Não existe drama, existe um caminho que está sendo tomado pela Canonical bem embaixo do nariz de todos e a maioria nem está se dando conta ou acha que não vai ser afetada.

    Abraços.

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  9. Minha humilde opinião e corrijam se eu estiver errado
    A Canonical fere os principios da liberdade do software livre e a alguma fundação ligada ao software livre (Free Software Foundation?) poderia rever isso.


    Um software é considerado como livre quando atende aos quatro tipos de liberdade para os usuários do software definidas pela Free Software Foundation:

    * A liberdade para executar o programa, para qualquer propósito (liberdade n.º 0);
    * A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas necessidades (liberdade n.º 1). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade;
    * A liberdade de redistribuir, inclusive vender, cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo (liberdade n.º 2);
    * A liberdade de modificar o programa, e liberar estas modificações, de modo que toda a comunidade se beneficie (liberdade n.º 3). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade;

    Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Software_livre

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  10. Infelizmente, não vejo a Canonical ferindo qualquer um desses principios, ao menos a primeira vista. O principio que foi ferido com essa atitude dela foi aquele que todos nós devemos observar, usuários de software livre ou não, que é o principio moral.

    Abraços e obrigado pela visita, Rodrigo.

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  11. Na verdade eu entendi plenamente, você é que parece que não vê a clareza de minha explanação, o problema é o destino que o dinheiro vai tomar se usarmos o Banshee e o seu plugin da Amazon Mp3 Store, enfim se não usarmos nem o Banshee e nem o plugin não estaremos contribuindo com a "apropriação de valores pela Canonical", simples e outra coisa eu não acho que usar o Banshee seja fundamental para poder escutar minhas músicas, ou compra-las, ele pode até vir como padrão e ter uma restrição a sua desinstalação, mas basta não usa-lo, enfim eu tenho certeza que não serei afetado, pelo fato de não comprar na Amazon e não usar o Banshee, dai a deixar de usar o Ubuntu por conta desse fato, é um caminho muito longo,

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  12. João, talvez quando a atitude da Canonical começar a afetar diretamente o desenvolvimento do Gnome (menos dinheiro é igual a desenvolvimento mais lento e demorado) você fique convencido de que tb será afetado. Além do fato de que, para muitas pessoas, não importa Qual o player, o importante é que ele gerencie a biblioteca corretamente e toque músicas sem problema. Esse é o grande trunfo da Canonical nesse "golpe".

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  13. será que não existe um contra senso na sua afirmação, já que em seu próprio texto você faz referência a doações em dinheiro, que são feitas pela Canonical diretamente a Gnome Fundation, mesmo anteriores a adoção do Banshee e a modificação do plugin da Amazon?

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  14. Não fui eu que afirmei, foi o Mark no blog pessoal dele, é apenas uma citação (Você tem certeza absoluta que leu o post? A cada comentário eu tenho mais certeza de que você não o fez). A afirmação dele, conforme eu disse no post, é absolutamente duvidosa: se nem com código a Canonical colabora, é sério que ele quer que eu acredite que ela colabora com dinheiro?

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