terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sopa, Megaupload e porque os EUA estão fechando o cerco à pirataria

Na última quarta-feira, a internet foi tomada por protestos de vários sites contra a aprovação de duas leis pelo congresso dos EUA que podem restringir a liberdade dos usuários na Internet. Disse-se até que a Internet ia parar mas o fato é que a Wikipedia foi o único grande site que se dispôs a sair do ar no dia: Google e Facebook, que prometeram a mesma ação, na h0ra mudaram de ideia.



Um dia depois, surpreendentemente, a Internet parou de fato - e não foi por causa de um protesto - quando o FBI tirou o site de compartilhamento de arquivos Megaupload do ar e prendeu seus funcionários e fundadores.


Com isso, a guerra estava declarada: o grupo Anonymous promoveu o - segundo eles - maior ataque de sua história e, na manhã de Sábado, ficamos sabendo que um grupo de hackers brasileiros sem nada melhor pra fazer tirou vários sites do governo federal e de Brasília do ar na onda de protestos - sendo que o governo brasileiro não tem NADA a ver com a história.


Estatísticas não oficiais dão conta de que com a derrubada do Megaupload, cerca de 4% do conteúdo da web foi pelos ares. Apesar de sabermos que a maioria dos usuários daquele site o utilizava para compartilhar arquivos ilegais, aqueles que o utilizavam de maneira legítima foram prejudicados - e aqueles que comparam contas premium, mais ainda.


O que mais me irritou nessa história toda foi o cinismo dos usuários do Twitter, que podem sem margem de erro serem chamados de posers: enquanto estávamos protestando junto ao resto do mundo  contra a aprovação das leis SOPA e PIPA, a maioria - que nem sabia do que se tratava o assunto - ficou fazendo chacota com as tags - que, diga-se de passagem, permitem vários trocadilhos em nosso idioma, prestando um desserviço à nossa causa. Mas depois que o site saiu do ar, mesmo com o FBI afirmando que a operação não tinha nada a ver com a aprovação dos projetos, esses mesmos usuários "se converteram" e houve uma adesão em massa à nossa causa, com direito até a tags com palavras e expressões de baixo calão. É lamentável que o povo só dê valor às causas que defendemos quando a parte que lhes interessa é tocada - e esses devem continuar nem sabendo o que é o software livre, mas pelo menos o episódio serviu para demonstrar o porquê de lutarmos contra esse tipo de projeto.


Mas a pergunta que fica no ar é: por que o FBI resolveu fazer essa operação "do nada"? Bem, poderíamos considerar a montanha de processos contra o site, mas eu tenho uma explicação mais convincente.


Como todos sabemos, os EUA, que já foram a maior economia do mundo, estão falidos. Eles tem uma dívida impagável de mais de 15 trilhões de dólares (você pode acompanhar seu crescimento em tempo real aqui). Se você não sabe o que esse valor significa, apenas considere que, se cada um dos seres humanos que habitam o planeta Terra, independente de idade, de sexo, de raça ou do local onde vive fosse obrigado a dar US$ 2.000 para o tio Obama para ajudar a pagar a dívida, esta ainda não seria paga - e olhe que US$ 2.000 é uma quantia astronômica para um grande número de pessoas.


Assim, os EUA precisam ganhar dinheiro de alguma forma e a melhor que existe é através do comércio. A venda de entretenimento é um negócio altamente lucrativo que poderia tirar o Tio Sam do buraco e é aí que entram serviços como a iTunes Store e a Netflix, que vendem entretenimento para o público pagante.


Mas, se deixarmos a ética de lado por breves instantes, o que seria mais vantajoso? Eu pagar para assistir a um filme via streming na Netflix ou baixá-lo de graça da Internet e poder assisti-lo quantas vezes eu quiser? Eu ter de pagar algumas doletas para a Apple para ter o CD da minha banda preferida, que só pode ser ouvido em seu iGadget ou eu baixá-lo da grande rede sem gastar um tostão e ouvir as músicas onde eu achar melhor?


A pirataria - palavra que não faz parte do dicionário de Richard Stallman - sempre foi uma pedra no sapato das gravadoras e dos estúdios que se sustentam baseados em um modelo falido - a maioria dos artistas, hoje, obtém a maior parte de sua renda através dos shows, comerciais e merchandising, e não da venda de discos. Os tempos mudaram e essa parte da indústria não quis se atualizar. Assim, a partir de agora o governo dos EUA vai começar a jogar duro contra os sites de compartilhamento na vã esperança de que seus usuários tornem-se clientes pagantes. Felizmente, haverá heróis anônimos (cof, cof) para defender nossa liberdade, embora a maioria dos internautas seja incapaz de compreender o verdadeiro sentido dessa tão nobre palavra.


A Guera começou. Fique preparado.

5 comentários:

  1. Legal.. É isso ai mesmo..
    os artistas são os ultimos a ganhar com a venda de musicas.

    mas com relação à filmes, livros e softwares é uma baita injustiça a pirataria.

    acredito que 2 coisas que favoreçam à pirataria são:
    - A desatualização da programação local (Ninguem quer ver uma série de 5 anos atrás na TV) aliado aos altos preços para ter um canal de filmes descente na TV a cabo.
    - A dificuldade de pagamento online.. é uma complicação para quem não entende do assunto comprar uma unica musica no itunes.. NÃO QUERO PAGAR EM DOLAR PÔ

    ResponderExcluir
  2. Entre ser alienado de graça pela TV aberta e ter de pagar para ser alienado pela tv à cabo, prefiro não ser alienado ;) É bem isso que tu falaste, e mais grave ainda: A Record, por exemplo, inventou de reprisar todas as temporadas de CSI, ou seja, episódios gravados desde o ano 2000 passando nos dias atuais!

    Devemos admitir que quem baixa arquivos nesses sites está errado, mas a indústria tb está errada por cobrar preços abusivos e dificultar o acesso à cultura e à informação ao povo em geral. O resultado é o que se vê: colírios, Restart, Cine...

    ResponderExcluir
  3. Cristian Martins24 janeiro, 2012 20:27

    Me tirem uma dúvida a lei SOPA foi ou não aprovada, eu li que não foi, mas tem sites que entre linhas dizem que foi, e tem muito site de compartilhamento que esta apagando arquivos, ou impedindo de baixar por medo . Pode ter certeza que se nao existesse pirataria a industria continuaria fazendo preços absurdos, quem aqui não lembra que um cd de musica custava 46 reais, um blue-ray custa quase 80 reais, um dvd era 30, se a pirataria sumir, certeza que em vez dos preços abaixarem, irão aumentar absurdamente. Eu peguei bronca de usuário de rede social, aquela pessoa que só entra na net para acessar rede social e vai tudo no embalo da multidão sem ao menos entender o porque daquilo .

    ResponderExcluir
  4. A SOPA não foi aprovada. O que ocorreu com o MegaUpload foi uma ação "sem ligação com o arquivamento da SOPA" do FBI e da justiça americana fechando o site, dando velocidade aos processos que estavam sendo julgados contra o mesmo. Como os outros sites com a mesma função, porém menores, viram o que ocorreu ao MegaUpload, parece que se instalou um medo geral.

    Não acho que a pirataria seja motivo pro preço baixar, muito pelo contrário. Mas acredito sim que a indústria do entretenimento deve buscar um novo modelo de negócio, mas de acordo com os avanços que a tecnologia trouxe.

    Abraços.

    ResponderExcluir
  5. Eduardo, o pior de tudo é que, mesmo na TV a cabo, é tudo coisa antiga. Eu tenho TV a cabo na minha casa e não passa nada... só mantenho o contrato porque DE VEZ EM QUANDO passa alguma coisa legal e a TV aberta não pega em casa. Mas geralmente utilizo a internet mesmo.

    Concordo contigo na questão dos preços. Não ligo de pagar para ter acesso a cultura, pelo contrário, costumo comprar vários livros por ano. O problema são os preços abusivos, principalmente no Brasil. Acho absurda a diferença dos produtos no Brasil em comparação com o restante do mundo. Para efeitos de comparação, há algum tempo vi uma série de reportagens que comparava o preço de automóveis fabricados no Brasil e vendidos em outros países, principalmente na América do Sul. Em praticamente TODOS os mercados, o preço do carro era inferior ao praticado no Brasil, somando ao valor, nos mercados externos, a carga tributária obrigatória no Brasil. Tinha um carro que dava uma diferença de 60%... É triste...

    ResponderExcluir