terça-feira, 12 de outubro de 2010

Projetos mirabolantes de software livre que não deram certo

O mundo do software livre está cheio de ideias fantásticas - o que é excelente. Mas algumas ideias são tão... absurdas, sem nexos, ridículas! que ficam fadadas ao fracasso. Neste post, vamos relembrar alguns dos projetos que tinham tudo para dar certo mas acabaram caindo no esquecimento (não, necessariamente, que suas ideias tivessem sido ridículas).

Alky


O projeto começou a ganhar fama em meados de 2006, saindo inclusive no BR-Linux. A ideia era ousada: todos sabemos que o Wine é um programa que permite rodar alguns aplicativos feitos para Windows no Linux. Alky queria ir além: ele queria converter os aplicativos do Windows para executáveis nativos do Linux e do Mac OS X. Foi anunciado como a salvação dos gamers e usuários que precisavam usar programas como Photoshop e AutoCAD mas queriam entrar de cabeça no mundo livre.

Nem é preciso dizer que o anúncio gerou polêmica, pois muitos alegavam que a conversão dos executáveis seria uma versão do sistema. A empresa responsável pelo projeto prometeu liberar os fontes quando tivesse alguma coisa pronta e anunciava que a tecnologia já funcionava perfeitamente no sistema da Apple. No final do mesmo ano em que fora anunciado pelo BR-Linux, o site do projeto saiu misteriosamente do ar e o canal IRC foi abandonado. Hoje, a página do projeto Alky pertence a uma empresa de domain parking.

LINE


Se o Wine permite rodar aplicativos do Windows no Linux, o LINE - Line Is Not A Emulator - prometia o contrário: rodar programas do sistema do pinguim no sistema do tio Bill. Os arquivos do projeto continuam disponíveis para download. Os mais recentes são de Maio de 2001. Precisa dizer mais alguma coisa?

Precisa: apesar de o LINE não ter dado certo, hoje existem outras tecnologias que permitem isso. Um exemplo é o CoLinux. Os ambientes de virtualização atuais, como Virtualbox e VMWare também permitem esconder a tela do sistema virtualizado e dar a impressão de que os programas dos dois sistemas estão rodando no mesmo ambiente.

WinLinux


Antes da febre das distribuições em live-cd - iniciada pelo projeto Knoppix, existente até hoje, que deu origem a muitas distribuições famosas como o Kurimin -, já havia muitos esforços para rodar-se o Linux sem a necessidade de se fazer uma instalação física do mesmo - traduzindo: evitar que o usuário leigo precisasse se envolver com conceitos avançados como particionar um HD.

As primeiras tentativas buscavam rodar o Linux em cima do MS-DOS. O Slackware, por muito tempo, ofereceu uma versão mínima de seu sistema chamada ZipSlack que cumpria esse fim. Outra distribuição mais famosa que rodava sobre o sistema de linha de comando da Microsoft era o Monkey Linux.

O problema é que, com o lançamento dos Windows 9x, ficou meio difícil rodar o Linux no DOS. Foi aí que surgiu o WinLinux, uma distribuição de Linux que rodava em cima do Windows. Funcionava assim: você inseria o CD, instalava a distro como se fosse um programa e, quando queria usá-la, selecionava-a do Iniciar. O micro era reinicializado e a distro entrava no ar.

A ideia não é, assim, tão absurda. Hoje em dia, o Ubuntu vem com o Wubi, que serve justamente para este fim e, além do mais, seria a solução perfeita para quem quisesse conhecer o Linux mas tivesse medo de mexer em seu computador. O WinLinux foi o pioneiro, apesar de ter cometido dois erros fatais.

Primeiro, a distro não era livre. Apesar de ela ter uma versão free, seus termos de licença proibiam sua redistribuição, o que limitou seu market share e, segundo, a distro não se atualizou tecnologicamente - A última versão lançada do WinLinux foi a 2003 e, em seu site, que hoje está fora do ar mas ainda pode ser acessado pelo Web Archive, é dito que a "distribuição" apenas funcionava nos Windows 95, 98 e ME. É claro que eles tentaram correr atrás do então dominante Windows XP mas, pelo visto, não conseguiram e foram obrigados a fechar as portas. Hoje em dia, porém, há outro projeto que segue o mesmo caminho, o TopologiLinux.

GoneME


Lá pelos idos de 2004, um desenvolvedor chamado Ali Akcaagac estava insatisfeito com os rumos os quais o projeto GNOME estava tomando e resolveu criar um fork do ambiente, chamado GoneME. Nesta página, ele oferece um pequeno binário para download e explica por que o projeto não deu certo.

Blanes


Blanes foi um projeto nacional de se fazer um ambiente desktop com a aparência similar ao Windows. O projeto era promissor, mas muitos usuários disseram que o desenvolvedor foi tomado pelo "lado negro da Força" e o ambiente acabou ficando com uma associação muito negativa. Aqui é possível ver a página original da última versão lançada. Atualmente, parece que o Blanes se transformou em mais uma distribuição baseada no Debian Etch. Segundo a página, embora a distro possa ser distribuída livremente, é necessário comprar uma chave de ativação para usar os aplicativos desenvolvidos pela empresa para ela.

ReiserFS


Em meados da década de 2000, o ReiserFS era a sensação do momento. Embora o sistema de arquivos consumisse mais recursos, era considerado muito superior ao Ext3, padrão do sistema. Tinha tudo para dar certo, até que o desenvolvedor matou a esposa e foi preso. O futuro do sistema foi dado como incerto e, hoje, a maioria das distros não o utiliza como padrão.

Corel Linux


Essa é a típica distribuição cabeça de bacalhau: a gente sabe que existe, mas ninguém nunca viu. Em um determinado ponto, a Corel resolveu se voltar ao mercado Linux e lançou sua própria distribuição que, inclusive, tinha uma versão do Corel DRAW! já instalada (a qual, depois, descobriu-se que rodava sobre o Wine). Então, veio uma crise, a Microsoft ajudou com alguns milhões e... tchau, distro!

Pulga Linux


Você sabia que, antes do Kurumin, Carlos Eduardo Morimoto lançou outra distro chamada Pulga Linux? Pois é, pouca gente sabe. Existem poucos registros dela, como este e este. O mais interessante é que, para instalá-la, era necessário usar o g4u, uma espécie de versão livre do Norton Ghost. Eu, hein?

Tropix


Antes mesmo de existir o Linux, existia um sistema operacional unix-like desenvolvido no Brasil, com kernel e bibliotecas próprias: o Tropix. Na página oficial, é possível ver que o sistema tem até o seu X Window System próprio. No entanto, o sistema, que tinha tudo para ser um orgulho nacional, está largado às traças desde 2008 (Nota: há alguns anos, quando visitei a página, parecia que a mesma tinha sido atualizada pela última vez em 1999. Ainda bem que, de vez em quando, alguém se lembra de mexer no código).

Internet Explorer for Unix


Tudo bem, este não é nem de longe um projeto de software livre, mas é necessário deixar registrado que ele existiu de fato. De acordo com a Wikipedia, o desenvolvimento do maldito navegador da Microsoft para Unix começou em sua versão 4, no ano de 1996. Foram lançadas versões para HP-UX e Solaris. O artigo diz que houve vários problemas sobre a propriedade intelectual do código-fonte. O maior chamariz era que, através do IE para Unix, era mais fácil acessar documentos do Offce 2000. Essa versão, no entanto, não era compatível com os famigerados ActiveX.

A página do navegador foi abruptamente removida do site da Microsoft no terceiro trimestre de 2002, sendo substituída por uma simples mensagem, sem mais explicações. Posteriormente, a empresa disse que a baixa demanda por usuários não justificava os gastos no desenvolvimento. No entanto, ainda é possível comprovar a existência destas páginas no Web Archive aqui e aqui.

E você? Conhece outro projeto que tinha tudo para dar certo mas acabou andando para trás? Então não deixe de contar pra gente nos comentários!

9 comentários:

  1. Faltou falar do Lindows, outro que causou polêmica e mais nada!

    ResponderExcluir
  2. De fato. Pelo que pesquisei agora, o Lindows virou Linspire após fazer um acordo com a M$ e foi adquirida pela Xandros.

    Eu estou tentando encontrar uma notícia do BR-Linux que noticiava o início das operações de uma Associação Brasileira do Software Livre ou algo assim. Queria ver que fim levou.

    ResponderExcluir
  3. É cada projeto mirabolante mesmo...

    Muito bom o post!

    ResponderExcluir
  4. André,
    a técnica que você menciona no paragrafo LINE:
    "Os ambientes de virtualização atuais, como Virtualbox e VMWare também permitem esconder a tela do sistema virtualizado e dar a impressão de que os programas dos dois sistemas estão rodando no mesmo ambiente."

    Você alguma leitura para me indicar sobre isso? Pois ainda dependo de maquina virtual para alguns programas, e já que tem a possibilidade de roda-los como se estivessem com o host, gostaria de aprender como fazer.

    ResponderExcluir
  5. Olá, Eduardo.

    O recurso mencionado neste parágrafo é o Seamless Mode do VirtualBox. Ele ainda exige a instalação da máquina virtual, mas dá ao usuário a impressão de que os programas dos dois ambientes estão rodando no mesmo sistema. Para mais informações, veja este artigo. Resumidamente, se você instalou o Windows no VirtualBox, após instalar os adicionais para convidado nele, pressione Ctrl direito + L e veja o que acontece.

    ResponderExcluir
  6. Thales Oliveira22 outubro, 2010 20:45

    " Tinha tudo para dar certo, até que o desenvolvedor matou a esposa e foi preso"

    HAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHA

    ResponderExcluir
  7. Eu lembro do Corel Linux. Na época foi um marco: foi praticamente a primeira distro que focou totalmente em usabilidade, inclusive no instalador que tentava detectar boa parte do hardware. Lembro que o pessoal da faculdade testou, e gostou bastante. Eu a vida rodando.

    Foi uma boa contribuição na época: fez as outras distros se mexerem e correrem atrás, era triste lembrar do quanto tempo se perdia configurando as coisas naquela época.

    ResponderExcluir
  8. O ReiserFS não deveria estar nessa lista, pois o sistema de arquivos continua bastante usado e seu sucessor, o Reiser4, continua sendo ativamente desenvolvido.

    E não é que o Tropix "não deu certo", é que ele é um projeto de faculdade, sem grandes ambições. Foi feito mais para fins de estudos. E é possível que haja novas versões desse sistema no futuro, uma vez que não foi declarada sua morte e não faz tanto tempo desde sua última versão.

    Um projeto que talvez poderia estar incluído nesta página (se bem que ele não está declarado como morto) é o Elks, um fork do Linux para PCs com processadores de 16 bits (http://elks.sourceforge.net). A última versão é de 2006.

    Outro projeto mirabolante e que já morreu é o Harmony, uma reimplementação (um clone) do toolkit Qt em software livre, na época que o Qt não era livre e a TrollTech não permitia que fizessem modificações no código da toolkit Qt sem autorização (não confundir com o Apache Harmony, a VM Java do projeto Apache). Depois que o Qt passou a ser software livre, o Harmony perdeu o sentido de existir.

    ResponderExcluir
  9. O ReiserFS não deveria estar na lista. Ele deu certo por muito tempo e acabou pelo que ocorreu com o desenvolvedor dele. Creio que a lista seria mais interessante (e coerente com a sua proposta) se tivesse apenas projetos tidos como grande promessas e que nunca deram certo.

    ResponderExcluir