quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Lucrando com software livre: o dilema dos desenvolvedores e das empresas

Não quero que me batam, afinal, o assunto é sério. Eu, talvez você também que lê esse post, todos somos entusiastas do software livre. Mas não dá pra negar que ninguém vive de luz do sol. Os desenvolvedores que disponibilizam os programas que nós utilizamos no desktop, no servidor e até no celular também tem famílias e precisam de grana para sobreviver. Quando falamos em empresas então, o assunto fica ainda mais sério.


Ao longo dos últimos anos nos vimos nascer e morrer diversas distros e softwares, nacionais e internacionais. A grande maioria era desenvolvida por voluntários que não ganhavam absolutamente nada com o desenvolvimento e que acabaram ocupando seus tempos com alguma tarefa talvez menos gratificante mas, com certeza, mais lucrativa.


Não vou voltar aqui ao caso Kurumin. Os motivos para o seu fim foram tanto pessoais - já que o Morimoto não ganhava praticamente nada com a distro - quanto pela atenção que ele precisava (e precisa) dedicar ao GdH, o seu verdadeiro ganha pão. Dois fatos que me deixaram um pouco apreensivos foram a provável descontinuação do DreamLinux e o inicio da discussão no fórum do BigLinux sobre uma forma de financiar o projeto. Essas duas notícias foram só de duas grandes distros nacionais (o DreamLinux nem tão nacional assim...). Nem citamos a descontinuação do NeoDizinha, o sumiço dos devs do Succi Linux e a fusão do ResuLinux com o duvidoso Linux KdUxP.


O fato é que de todas as distros citadas, quem ainda tenta caminhar por uma via sustentável é o Big Linux, com a discussão sobre como financiar o projeto e que, ainda sim, está apenas no principio e ainda não enxerga algo concreto a sua frente. Infelizmente, os brasileiros ainda utilizam Linux pelo fato dele ser de graça e não por questões de filosofia e de acreditar no principio do software livre. Quando se fala em pagar por uma distro, a grande maioria ainda torce o nariz e faz cara de poucos amigos.


Muitas distros internacionais seguem o caminho do suporte para financiar o desenvolvimento. A ideia básica é distribuir a distro gratuitamente e disponibilizar um fórum gratuíto. Caso o fórum não seja suficiente, existe a possibilidade de um suporte pago. É o caminho seguido pelo Ubuntu, por exemplo. Mas para ter algo que se pague para ter suporte, é preciso que esse algo seja utilizado e tenha uma qualidade razoável. E para ter uma qualidade razoável é preciso dedicação e muitas, muitas linhas de código. E para ter tempo de pensar essas linhas de código, precisa-se de dinheiro. E, assim, voltamos ao inicio do problema.


Talvez o melhor caminho inicial seria uma mistura do que o Morimoto fazia com o Kurumin e o que a comunidade Big Linux sugere que o Bruno faça com o Big Linux: uma página web de qualidade (blog + fórum) com anúncios e patrocinadores, materiais relacionados a distro disponíveis para venda (livro, camiseta, bonés, etc) e doações dos usuários que desejarem ajudar a distro financeiramente.


Eu sei que ninguém fica rico com o Adsense ou com qualquer outro sistema do tipo. Até porque, se ficasse, nós do EL já estaríamos ricos. Mas uma página de qualidade é a porta de entrada para o usuário do sistema e caso esse usuário clique em algum anuncio, melhor ainda. Os materiais relacionados a distro são coisas para os fãs e entusiastas, mas ainda sim podem ser uma fonte de renda razoável. Por último, doações são o tipo de coisa que você nunca imagina que vão financiar sua vida ou se trabalho, mas que em alguns casos são necessárias.


Eu sei que essa discussão é longa e que muita gente tem opiniões diferentes. Mas se faz necessário iniciar uma discussão real, que não caminhe para a perda de tempo, sobre como tornar projetos open source sustentáveis. E é melhor fazer isso antes que percamos mais softwares e distros.

Um comentário:

  1. Todo objeto tem um custo, e falando financeiramente uma margem de lucro, o custo de produção precisa ser de alguma forma pago, acho que existem maneiras de promover a cultura do software livre, de maneira que não seja nociva ao bolso de quem utiliza e nem do bolso de quem dedica horas produzindo, e propagandas são alternativas interessantes, claro que não um mundo de banners poluindo o site, mas uma propaganda limpa e relacionada com o publico do site é interessante.

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