terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Como desconstruir a liberdade conquistada na Web em 30 segundos

Nós, que somos antenados na tecnologia e nas últimas tendências da Web, sabemos que, graças à Internet, conquistamos uma liberdade e um espaço cada vez maiores. Minorias antes sufocadas agora podem ter voz e expressão - maior exemplo foi a Primavera Árabe e as lutas contra SOPA e PIPA - mas, infelizmente, basta olhar para nosso próprio município para ver que os inovadores conceitos de liberdade parecem estar bem distantes de nossa realidade local.



Hoje, quando acordei, percebi na caixa de correio que alguém havia deixado um exemplar do Jornal de Viamão, uma publicação gratuita que, na maioria das vezes, fica falando das benfeitorias da prefeitura e se esquece de pontos menos nobres de nossa realidade, como o crescente aumento das "crianças" e adolescentes que estão cada vez mais entrando nos famosos bondes e transformando nossas escolas - públicas e particulares - em verdadeiras zonas de guerra.


Mas enfim, logo na primeira página, a contracapa, há um quadro onde os jornalistas destacam, com letras garrafais, a manchete: "Vereador de Viamão usa rede social para chamar o povo de relaxado", referindo-se aos recentes comentários do vereador Serginho no Facebook (concordo com ele, diga-se de passagem). Após esse destaque, mais em baixo, vemos a seguinte pérola na "nota da direção":




Estamos cansados de ouvir besteiras de pessoas que se dizem jornalistas ou donos de jornaiszinhos (sic) que a toda hora surgem, mas que na verdade nem ao menos conseguem manter um simples site por falta de capacidade, trabalham sem CNPJ, não pagam impostos e vivem denegrindo a imagem do que é jornalismo de fato, pois apenas copiam matérias, criam situações que favorecem única e exclusivamente a políticos, alguns ainda com o aval de autoridades...



UI, PARA TUDO!!! Quer dizer que quem não tem CNPJ só escreve besteira? Gente, se é isso risquem o EL de seus favoritos.


Não sei a quem o "diretor" estava se referindo, mas basta uma análise superficial do texto para concluir-se que toda a argumentação contrária aos " jornaiszinhos", com utilização até de expressões pejorativas, é baseada na falácia lógica ataque ad hominem, o que automaticamente torna todo o texto logicamente inválido - e que eles nem devem saber do que se trata. O mais interessante é que no mesmo  texto onde o jornal critica os "jornaiszinhos" por tomarem partido de alguns políticos ele diz que a tiragem de 100 mil exemplares mensais é confirmada pelo grupo RBS, afiliado da Rede Globo no Rio Grande do Sul (distribuindo de graça é óbvio que todos leem).


Os últimos anos mostraram que qualquer pessoa pode produzir notícias e informações, sem ser necessário possuir um diploma para tal. Ter um CNPJ não é atestado de competência ou de idoneidade: a própria comunidade Linux é o exemplo vivo de que a maior parte dos conteúdos úteis e relevantes na web - sejam tutoriais, artigos ou notícias - são produzidas por pessoas físicas comuns não relacionadas a empresas (embora estas também prestem um excelente trabalho). As novas mídias sociais nos deram exatamente a possibilidade de termos um contraponto às informações veiculadas pelas mídias de massa, com CNPJ e jornalistas com diploma.


Revolto-me ao saber que as "novas tendências" e a liberdade que lidamos todos os dias em nossas navegações na Internet, tão comuns em nossas vidas, ainda não chegaram às nossas cidades, aos nossos bairros ou às nossas ruas. Pior ainda é saber que, devido à natureza desses "jornais sérios", não existe a mínima possibilidade de diálogo.


Precisamos nos mobilizar para mudar a mentalidade de nossos representantes para que a mesma reflita nossos ideais. Precisamos de levar nossas ideias e reivindicações não apenas a uma escala global ou nacional mas, também, à escala local. Estamos sozinhos nessa luta: se não exigirmos o que queremos, ninguém o fará por nós.


Lamentável, mas isso deve acontecer na sua cidade também.

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